Geraldo Iglesias é radialista, escritor, roteirista, produtor e firetor de diversos vídeos e programas de televisão. Desde 1972 está na TV Globo, com passagens pela TV Rio, Manchete, MultiRio e TVE. Foi vencedor do prêmio Fest in Rio com o documentário OLGA. Atualmente é diretor-geral do programa "Comentário Geral", autor de dez blogs, e tem um livro a caminho.
OU ISSO

Quando digo que busco, não perco, busco em mim. Porque é em mim que você aparece, só pode existir um você quando ele está em mim. Só existo por que você me enxerga, se não for assim sou homem em frente ao espelho, nada mais. Se somos assim, você só existe à partir de mim, de eu perceber tua presença e tudo no mundo deve ser assim, não é? O que é, é à partir do outro, da visão e percepção. Então, essencialmente, somos do outro.
Esse ser do outro implica mais do que consentir, mas sentir-se. Vou à lua e volto sentindo exatamente o que você está dando porque na verdade dando você está me possuindo e somos esse jogo de posse consentida que não perde a força do corpo. Na água que escorre, ali está indo uma parte de nós porque somos isso: escoar. O prazer de estar sem ar é o mesmo que você pensa ao me sufocar porque domina provisoriamente o indominável. Somos indomináveis.
A temperatura da noite é alta porque esse fogo de dentro incendeia, rasga, toma de assalto, molha, domina. Quem domina não é um, quem domina é ser. Se avanço mais e mais é porque avanças mais e mais como se não tivesse fim e pela consciência de que não tem mesmo fim. E não ter fim é uma visão apocalíptica de fim de mundo e é exatamente de fim de mundo que as pessoas falam quando percebem que o que foi não é nada perto do que é, que a possibilidade sempre é maior do que a história, que a vida não é a lembrança de passado e sim expectativa do que vem no segundo seguinte.
Não, não acabou. Essa é a diferença das coisas e das pessoas. Perceber no suspiro último que não acabou, que está começando sempre porque a chama não morre, diminui e aumenta, mas está ali mantendo aceso e quente o período da noite em que o frio faz as pessoas se cobrirem de peles quando a pele necessária é outra, fina, suave, que não tem peso porque não está por cima e sim por dentro. Adentrar é o verbo que possibilita existir. Não há você simplesmente. Sua marca não é a que usam, a pré-estabelecida. Sua marca vem do nada e do tudo, de uma impulso que o imaginário não alcançaria, porque ela não é planejada.
Os resultados dessas fusões não são explicados porque não têm começo nem fim, não tem meio nem determinação, nem hora nem lugar e independem de planetas porque o planeta é você, o planeta sou eu e assim, todos planetas, o outro passa a ser o sol em torno do qual gravitamos e mantemo-nos quentes e queremos (talvez) afastar, mas não conseguimos porque a força que atrai é maior, é uma força não bruta, uma atração natural de corpos (não celestes).
E ficamos completamente vazios de imagens representativas exatamente no momento em que precisamos delas para sustentar no outro o fogo do todo. Exatamente nessa hora todas as palavras fogem, toda alusão parece pequena porque o que rola não se expressa, ao contrário, ele obriga a parar de explicar para consumar (porque se não consumar explode, porque sempre explodimos sem saber e agora queremos explodir sabendo).
E como se tudo não bastasse, a mão nos tapa a boca porque o silêncio torna tudo melhor, torna tudo possível e levamos isso com cuidado, com medo de perder, de deixar-se entrever pelo que não interessa, não deve e não pode. Essa é a medida do poeta que passa a vida a poetar voltado para uma só estrela num firmamento de bilhões. O poeta nada mais faz do que entrar em baixo, em cima, do lado, grudado enfim numa estrela e nessa hora ele deixa de ser poeta e vira estrela e quem olha não vê nada. Por outra: não somos nada além do senão, do clímax que não merece essa palavra porque é constante.


O PAPO DO GERALDO

Não conheço o Geraldo pessoalmente, o que é uma pena, porque me tira a oportunidade de zoar com ele. Mas que o Geraldo escreve muito bem, isso vocês podem verificar acima...

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