Sua vida estava espantosamente estreita. Tudo perdido. Nada se acertava. Não conseguia dormir. Ela virava-se para a mãe, esta queria dominá-la. O pai a desprezava. O irmão casara-se e mudara, levando lembranças amargas de sua infância. A avó, seu esteio, partira cedo.
O namorado andava com outra, foi sua melhor amiga quem trouxe a notícia. Trouxe-lhe a notícia e riu-se de sua cara de parva.
A mãe entre dentes sugeriu: Por que você não tenta sair de casa, para ver como a sua vida fica? Sim, ela precisava fazer isso. Era uma saída...
E naquela noite chuvosa... Que importava? Saiu de casa só, absolutamente só.
Tinha perdido tudo. Andou durante horas... Suas pernas vacilavam. Seu corpo mostrava um estranho torpor.
Atravessou a ponte e sentou-se em sua beira. As águas rápidas! Competiam com seus maus pensamentos. Chegou até a beirada... Espiou. Como corriam! Ficou entorpecida e depois sentiu certo alívio, sim era esse o caminho. A solução. O apagar de seu sofrimento.
Passou a perna... Foi quando sentiu uma mão suave em seu ombro: — Venha, não faça isso!
Espantada, pois se julgava absolutamente só, olhou para aquele semblante iluminado, forte e sereno. Um anjo azul!
Sentiu-se bem. Ele a tomou nos braços, e... sentiu-se em sua cama. Ela puxou sua mão e pediu-lhe: — Abrace-me, preciso dormir.

A Cármen Rocha é um furacão literário com epicentro no Butantã. Está sempre me puxando para aventuras como a participação no seu grupo de contistas, ou até no júri de concursos literários (empreitada que acabou se revelando muito mais divertida do que eu esperava.) Já estava na hora dela publicar aqui.