"Esse mês, a Escrevinhadora apresenta a história de uma mulher que só queria um bom partido. E, como num passe de mágica, ele apareceu!"

O MÁGICO

Mentira eu não conto. Já contei umas mentirinhas por aí, mas hoje me arrependo. E nunca tive imaginação. Não acredito em alma de outro mundo, vida passada, assombração, espírito que baixa em terreiro.
Mas quero cair mortinha, se tudo que eu vou contar aqui não for verdade. Juro pela saúde da minha mãe. Aconteceu mesmo, e eu tenho como provar.
A primeira vez que eu vi o cara foi no bar onde tomava café da manhã, todo dia antes do serviço. Minha mãe acordava tarde, e eu não gostava de ficar mexendo em casa, com ela ainda na cama. Ela é muito doente - tem um problema de coluna e também sopro no coração.
Foi numa dessas manhãs que vi o sujeito encostado no balcão, na frente de uma média e de um pão já mordido. Mas ele não estava comendo: olhava para mim.
Se eu pudesse adivinhar quanta desgraça ia acontecer na minha vida, só por causa daquele homem, saía correndo do bar. Não que fosse adiantar, é claro. Ele já tinha me visto. Quando viu que eu também estava olhando, levantou o copo como quem estivesse dizendo, saúde! E sorriu. Um sorriso de muitos dentes, e um deles era dourado.
Não vou dizer que fiquei apaixonada. Mas ele me deu boa impressão. Já era um senhor, com o cabelo começando a ficar branco; usava terno e uma pasta de executivo. Verdade que, quando olhei pela segunda vez, percebi que a pasta estava surrada, e o terno era grande demais para ele. Mesmo assim, fiquei interessada.
Logo naquele primeiro dia, aconteceu uma coisa estranha. Teve uma hora em que virei a cabeça para cumprimentar o Cardoso, um colega da repartição. Pois quando olhei de novo, não deu nem um segundo, o homem tinha desaparecido!
Achei esquisito, mas entrei no trabalho e não pensei mais no caso. Justamente naquele dia tive uma briga feia com a Salete, que estava devendo duas prestações de um pulôver de cachemira que tinha comprado de mim; lã argentina, muito boa. Fiquei com ódio dela, porque quando fui cobrar o dinheiro, me disse que a fazenda não valia nada e estava desbotando. Desafiei a Salete a mostrar a blusa, e ela disse que já tinha jogado aquela porcaria fora; que o meu material era falsificado; além disso, conhecia gente na Secretaria que podia me ferrar, se soubesse que eu estava vendendo contrabando ali; e tinha mais... Nem sei o que mais tinha, porque nessa hora o chefe chegou do almoço, de mau-humor e dizendo que não queria chacrinha na hora do serviço.
Enfiei a cabeça no arquivo, mas estava com tanta raiva, que tive de ir chorar no banheiro. O sapato apertava e eu aproveitei para tirar um pouco. Sentei no vaso e fiquei de perna pro ar, descansando, só fazendo hora pra ver se o expediente acabava logo. E pensei: tanto trabalho pra ir ao Paraguai no fim de semana, voltar carregando um monte de mala, vender, e pra quê? Para lucrar uma porcaria que mal e mal dava pra arredondar as contas no fim do mês. E depois ainda ter que ouvir desaforo daquela mocréia. Por essas e outras é que eu sempre quis encontrar um homem que me arranjasse a vida. Claro, não podia ser um daqueles duros que ficavam me rondando na repartição -- um pessoal que não dava futuro. Eu precisava de alguém que me garantisse a vida, casada ou não. Que me desse um apartamento, por exemplo, e uma conta no banco com um bom saldo. Numa hora daquelas, em vez de estar ali trabalhando, eu podia estar passeando no shopping, olhando as vitrines e comprando tudo que me desse vontade. Será que eu não merecia isso? Bem que merecia.
E naquela hora, não sei porque, pensei no homem do bar.

Bom, o tempo passou. Uns dois ou três dias. Uma tarde, quando eu estava pegando o ônibus de volta pra casa, pensei que tivesse visto o homem do bar na calçada. Mas foi só impressão. Quando olhei de novo, ele não estava lá.
Até que na sexta-feira, na hora do almoço, ele apareceu no "quilo" onde eu sempre almoçava. Nesse ponto, aliás, eu devia ter começado a desconfiar. Como o homem podia saber onde eu comia? Naquela sexta-feira eu estava sozinha, porque a Salete, que antes almoçava na minha mesa, não falava comigo desde o dia da briga.
-- Posso sentar com a senhorita?
Ele perguntou, mas nem esperou pela resposta: já foi sentando do meu lado, todo sorridente. Também nesse dia estava bem vestido, com terno e gravata borboleta. Mas, olhadas de perto, as roupas dele tinham um jeito de coisa antiga, esquisita, que não foi comprada em loja. E outra: cheiravam naftalina.
Começou a conversar comigo, todo simpático. Isso eu tenho que reconhecer: no começo, ele era muito gentil. Tinha um jeito de olhar pra mim, nem sei, assim como se eu fosse uma pessoa importante, sabe? Em menos de uma hora, sabia da minha vida toda. Falei até do Gérson, que já estava quase meu noivo quando descobri que era casado. E do meu pai, que se mandou quando eu tinha catorze anos -- foi por isso que tive que ir trabalhar, e mal acabei o colegial... Falei, falei, falei. Só depois daquele tempo todo percebi que o homem não tinha contado dele mesmo. Perguntei então o que fazia.
-- Sou mágico -- respondeu, meio distraído. No momento seguinte passou a mão atrás da orelha e de lá tirou duas bolinhas coloridas, abrindo um grande sorriso. Engasguei com o macarrão, de tanto susto. Ele então começou a bater nas minhas costas.
Quando parei de tossir, fiquei olhando pro homem, desanimada. Só me faltava essa: mágico! Outro morto de fome, sem um gato pra puxar pelo rabo. E depois, olhando mais de perto, o homem devia ter no mínimo uns cinquenta anos. Naquela idade já devia ter achado uma profissão melhor, não é?
-- Não me diga -- disse eu, disfarçando a decepção. -- Então o senhor é mágico, é? Trabalha pra algum circo?
-- Trabalho por conta própria -- respondeu ele, fazendo um gesto despreocupado. Reparei que na mão dele havia um anel bonito, com diamante. Mas podia ser falso, é claro.
-- E isso dá dinheiro?
-- O suficiente -- respondeu ele, com uma risadinha.
Quando eu pedi o cafezinho, disse que ia me acompanhar até a repartição. Só aceitei para não parecer mal-educada. Mas quando chegamos na porta do "quilo", fiquei mais animada. Um carro de luxo - preto, com um motorista mais preto ainda - esperava por nós. Novinho em folha. Mas aí é que eu digo: como não percebi logo que tinha alguma coisa errada? se andei naquele carro um monte de vezes, e nunca vi o chofer dizer uma palavra pro patrão. Era como se fosse mudo. Mas a burra aqui não desconfiava.

Depois disso, ele sempre me esperava na porta da repartição. Minhas colegas morriam de inveja. Eu, para falar a verdade, adorava ver a cara delas, quando me via entrar naquele carrão. Principalmente, é claro, a Salete. De tão despeitada, começou a dizer que eu tinha arranjado um amante rico e agora não precisava mais vender contrabando. Tudo mentira, porque ele nunca me deu um tostão.
Me levava nuns lugares bonitos, mas muito esquisitos. Uma vez, por exemplo, fomos para um parque bem longe, num lugar da Zona Norte que, depois, eu nunca mais consegui achar. Era bonito, mas muito quieto, com um laguinho onde nadavam cisnes. Só cisnes negros. Outra vez ainda, me levou para um bar muito escuro, cheio de gente estranha. Me lembro de uma ruiva de olhos verdes, que sentou na nossa frente e não parava de olhar para nós, assim como se estivesse me estranhando. Perguntei quem era, mas ele deu uma risada e disse que nunca tinha visto aquela mulher.
Também me levou ao seu apartamento, que era grande mas quase todo vazio; de móveis só tinha a cama, um armário e algumas cadeiras. Como é que um homem que parecia tão rico não tinha nem mobília? As perguntas se amontoavam na minha cabeça, mas eu não tinha coragem de fazê-las. Isso devia fazer parte da bruxaria dele. Às vezes desconfio que estava me hipnotizando.
Mas não posso negar que gostava das mágicas. Era cada truque que eu nunca tinha visto nem na televisão. Ele tirava flores, bombons e lenços de seda da palma da mão, detrás da orelha e até do meu decote. Depois, me dava de presente. Eu ficava deslumbrada de ver o jeito com que ele fazia aquelas mágicas, sem que o truque nunca aparecesse. Jurava que ia prestar mais atenção da próxima vez, para pegar ele no pulo. Uma vez, quando ficamos mais íntimos, obriguei ele tirar a roupa, e depois revistei todo apartamento. Não descobri nada; mas mesmo assim, dali a alguns minutos ele me apareceu com um ratinho branco que tirou detrás da orelha.
Eu gostava muito de ver as mágicas, mas os presentes não eram lá essas coisas. Só uma vez é que ele me deu uma coisa linda: um anel de brilhante em forma de sol, com raiozinhos de ouro. Perguntei se era de verdade, ele riu e falou: "Por acaso já te dei alguma coisa falsa?" Era isso que me dava mais raiva: às vezes tinha a impressão de que ele estava debochando de mim. Assim que saí dali, fui correndo pra joalheria. Perguntei pro moço do balcão se o anel era de verdade. Ele foi lá dentro e demorou um tempão para voltar. Quando apareceu de novo, com uma cara muito espantada, me disse que a jóia era verdadeira sim, e que ele nunca tinha visto um modelo igual. Até me tratou com mais respeito, fiquei toda contente.
Depois disso me convenci que valia a pena agüentar as esquisitices do homem. Até ali eu estava meio desconfiada, com medo de estar perdendo tempo com ele. Uma vez, cheguei a lhe pedir dinheiro -- minha mãe andava mal, precisando de uns remédios caros -- e aí ele fez uma cara preocupada, e perguntou se eu não podia esperar um pouco. Esperei uma semana! E depois, o dinheiro que ele me deu era menos do que eu precisava. Fiquei tão desapontada que quase chorei de raiva.
É importante lembrar disso, porque foi nessa época que apareceu a primeira tatuagem. Agora estou me lembrando bem. Saí dali chateada, e fui andando pelo calçadão, olhando a praia. Pensava comigo mesma: mas que bela porra de mágico eu fui arranjar. Por uma vez na vida, será que não dava pra ele tirar um monte de dinheiro da cartola, em vez dos tais lencinhos? Não era lógico? Em vez disso, não, ficava me regulando mixaria. Se bem que, para ser justa, ele parecia triste, quando me disse que não tinha conseguido todo o dinheiro. Parecia, mas quem é que podia dizer, com um sujeito daqueles?
Peguei o ônibus de volta para casa, apertada, suando no meio de gente fedida. Pelo menos podia pedir pro motorista me levar de volta pra casa, não é? Mas que nada, vai ver o cara já estava ocupado trazendo um daqueles caixotões enormes que sempre chegavam na casa dele. Nunca abriu nenhum na minha frente, e uma vez que tentei xeretar neles, até ficou bravo comigo.
Na cama, não fazia mágica nenhuma, pra ser franca. Mas isso ainda passava, né? se tivesse outras compensações. Um homem com cinqüenta anos também não pode ter aquele fôlego de garoto. Eu até já estava começando a gostar um pouquinho dele. Não era assim um grande amor mas a gente se entendia bem. Não me dava muita coisa, mas, sei lá, podia estar numa fase ruim. Com o tempo, quem sabe as coisas melhorassem... Mas dessa vez ele tinha sido muito pão-duro comigo, e talvez já estivesse mesmo na hora de dar um pé na bunda. Nem que fosse só pra ele voltar mais generoso.
Cheguei em casa, dei os remédios pra minha mãe, comi uma coisa qualquer e fui pra cama. No meio da noite, acordei com uma sensação ruim. Era como se eu estivesse sentindo um formigamento meio gelado no ombro, uma coisa aflitiva. Fiquei uns minutos acordada, meio zonza, mas acabei dormindo de novo, depois de trocar de posição. Pensei que estivesse deitada de mau jeito.
No dia seguinte, quando estava me trocando na frente do espelho, dei com uma rosa enorme, tatuada, bem no meio do ombro esquerdo.

Acho que foi o pior susto da minha vida. Fiquei tonta, sem respiração, pensei que fosse desmaiar. Tive que sentar na cama. Na hora, mas na horinha exata em que vi a tatuagem, tive a certeza que era coisa daquele homem. Era a única explicação. Ninguém mais podia ter inventado aquilo. Não fazia nem duas semanas, eu tinha comentado com ele que meu sonho era ter uma tatuagem, mas não tinha coragem de fazer.
Tinha sido ele, é claro. Sentiu que eu estava chateada com a história do dinheiro, e quis fazer uma surpresa, me dar um presente. Mas nesse caso -- pensei, nervosa -- ele devia ser capaz de qualquer coisa. Devia ser mágico mesmo. Pior que isso, era um bruxo. Podia me enfeitiçar no momento em que desejasse.
Só de pensar nisso, fiquei gelada. Mas durante o dia, depois que saí para trabalhar, fui me acalmando. À noite, já olhava com orgulho para a tatuagem no espelho. Uma rosa, bem como eu sonhava. Afinal das contas, eu sempre tinha querido uma daquelas. Não tinha doído nada: se eu tivesse me tatuado de verdade, com certeza morria de dor. E a rosa não tinha aquela cor meio apagada de tatuagem. Era de um vermelho bem vivo. Minhas amigas iam babar, quando vissem. Pra que ficar brava com ele, se o homem só tinha tentado ser gentil?
No jantar, quando nos encontramos, acabei agradecendo a rosa. Ele sorriu, todo misterioso, e passou a mão no meu queixo, como se eu fosse uma gata. Então tomei coragem e disse:
-- Mas você não pode ficar fazendo essas coisas assim, sem me avisar. Eu quase morri do coração quando acordei. Da próxima vez conte antes, meu bem.
Ele sorriu de novo, e disse:
-- Se eu avisar, perde a graça, querida. Essas coisas têm que ter um mistério. As mulheres -- completou, com um ar sábio, beliscando uma azeitona -- gostam de ser surpreendidas.
Fingi que concordava.

Mas a verdade é que, depois disso, nunca mais fique tranqüila com aquele homem. E se ele fizesse de novo a mesma coisa? me perguntava, à noite, enrolada nas cobertas. Morria de medo de sentir outra vez aquele formigamento gelado. Demorava para dormir, e quando conseguia, às vezes acordava no meio da noite, com uma pergunta ainda pior na cabeça: e se ele resolvesse me fazer mal?
E no entanto as coisas andavam bem. Ele devia estar numa maré boa, ganhando bastante dinheiro. As entregas de caixotes no apartamento ficaram mais freqüentes. Cada vez que recebia um caixote, ele ficava horas cochichando no telefone, para eu não ouvir. De qualquer jeito, não era da minha conta - eu pensava, esvaziando copinhos de licor. (Agora também tinham aparecido umas bebidas finas por ali). Depois a gente saía para a noite, e às vezes ficava até de madrugada dançando em boates. Puxa, pensando bem, eu me divertia bastante naquela época.
Minha mãe também tinha melhorado do coração, e eu não precisava me preocupar tanto com ela. Só que tinha dado pra fazer uns sermões, principalmente quando eu chegava tarde da noite. Ficava me esperando acordada, com a luz acesa. Estranhei, porque ela nunca tinha sido de controlar a minha vida. Mas agora queria saber de tudo: aonde eu tinha estado, o que andara fazendo, e, principalmente, quem era aquele homem com quem eu saía. Me enchia o saco e eu ficava brava: "Mãe, você agora deu de ficar me regulando?"
Mãe parece que adivinha as coisas. Antes, eu podia ter vinte namorados que ela não dava a mínima. Mas com aquele ela estava preocupada.
No Dia dos Namorados, ele me deu uma fada com asas azuis, tatuada do lado esquerdo do seio. Não falei nada, mas estava esperando uma jóia, um perfume, uma coisa diferente. Essa outra tatuagem, além de tudo, me assustou. Verdade que era linda: o azul das asas era claro e transparente como eu nunca tinha visto antes. Fingi que estava feliz, elogiei bastante.
Mas agora eu estava com medo dele. Não sabia porque. Nunca tinha me feito mal, longe disso. Já tive namorado que era muito ciumento, chegou a me dar uns tabefes. Mas foi fácil me livrar dele.
Com aquele homem, não, eu nunca sabia o que ia acontecer. Não era rico, nem forte; mas algo me dizia que ele podia mandar em mim. Eu estava contente, passeava bastante, andava num carro bonito e até ganhava presentes de verdade. Mas de vez em quando me dava um aperto no peito, um pressentimento ruim.
No meu aniversário, dois meses depois, foi a mesma coisa: uma borboleta na virilha. Também dessa vez quis reclamar, mas não disse nada e fingi que adorava borboletas.

Foi nessa época que o Mauro veio trabalhar na repartição. Chegou transferido da Zona Norte, porque lá o chefe tinha brigado com ele. Assim que vi o cara, fiquei zonza. Era um gato! Tinha olhos azuis, uma barba macia e um jeito doce de falar. Na hora, percebi que ele gostava de mim. Começamos a almoçar juntos, e depois ele me convidou para ir à praia no fim de semana.
Fiquei toda atrapalhada, mas não tive coragem de recusar. Um homem daqueles! O problema é que eu já tinha um compromisso com o outro, e tive que inventar uma desculpa: minha mãe não estava passando bem.
-- Mas você disse que agora ela estava ótima...
-- É, mas piorou de um dia para outro. Coração, sabe como é.
Ele engoliu a mentira, mas já com uma cara meio desconfiada. Nas semanas seguintes, comecei a inventar uma história atrás da outra. O chefe tinha pedido para eu trabalhar até mais tarde. Estava com dor de cabeça e não podia sair. Uma amiga tinha ganho nenê e precisava de mim na maternidade. Eu mesma achava as histórias meio esfarrapadas, mas ele nunca dizia nada. Só me olhava com o rabo do olho, dava um sorrisinho e dizia claro, querida. Fui ficando cada vez mais descuidada; e era justamente aí que devia ter ficado esperta.
Pro Mauro, as histórias eram outras:
-- É um tio meu. Minha mãe pede pra ele ir me buscar na repartição.
-- Tio, é?
Foi ficando desconfiado e me apertando -- justo ele, que tinha outra namorada no Méier! Eu já não sabia mais para que lado me virar, mas nunca pensei em largar o mágico. Sem que ele precisasse me dizer, eu sabia que era impossível. Minha única esperança era que um dia ele me esquecesse e me deixasse em paz. Como parecia engolir todas as mentiras numa boa, comecei a pensar que talvez já estivesse enjoado. O que seria ótimo, aliás.
Até que um dia -- era terça-feira, e nas terças eu sabia que ele não vinha me esperar -- eu estava saindo da repartição com o Mauro e encontrei o mágico na porta, encostado no carro. Do lado dele, conversando como se fosse amiga de longa data, a Salete. Ficou branca quando me viu, a covarde. Mas depois deu um sorrisinho cínico e foi caindo fora. Na hora, entendi porque ele tinha vindo me esperar na terça.
Veio reto na minha direção. Fingiu que não via o Mauro, segurou com força o meu braço e disse:
-- Você vem comigo.
-- Não venho não -- respondi. Não sei o que me deu, mas acho que foi raiva mesmo. Tinha trabalhado o dia todo num calor infernal, sonhando com a hora de sair com o Mauro. Agora vinha ele me estragar o programa. Ultimamente, aliás, eu não estava mais agüentando aquele homem. Antes acho que eu não reparava no quanto ele era chato. Ou não ligava, sei lá. Mas, de uns tempos para cá, tudo me irritava nele: o jeito de falar, usando aquelas palavras difíceis que eu não entendia; a mania de cochichar no telefone; e até a caspa dele. Meu Deus do céu, como aquele homem tinha caspa! Por melhor que se vestisse, andava sempre com o ombro do paletó sujo daquelas coisinhas brancas.
Mas o que me irritava mais do que tudo eram aquelas malditas tatuagens. Ele tinha me dado uma outra no tornozelo, um pouquinho antes de eu começar a sair com o Mauro. E agora eu já nem tinha mais coragem de botar biquíni, me sentia ridícula. Comecei a detestar todas aquelas porcarias espalhadas pelo meu corpo. Até a tatuagem da rosa eu odiava agora. Sentia saudade da época em que tinha a pele branca, sem nenhum desenho.
Ele continuou a apertar meu pulso e a me puxar pro carro. Eu podia ter me livrado fácil, mas estava com medo dele, e depois não queria fazer escândalo na porta da repartição. Fui andando, pedindo baixinho pra ele me largar, pelo amor de Deus. Que eu não queria mais ir para aquele apartamento bolorento, nem para aquelas boates ordinárias. Queria que ele me deixasse em paz. Eu devolvia tudo que ele já tinha me dado...
Mas nem tive tempo de terminar, porque de repente o Mauro deu um safanão no homem: "Larga ela, seu cretino!" O mágico ficou ali, com o cabelo grisalho despenteado, fulo de raiva. Nem falava, de tanto ódio. Mesmo assim, tentou me puxar de novo, e foi aí que o Mauro bateu nele de verdade. Deu-lhe um murro na cara que ele até caiu no chão: depois me pegou pela cintura e me levou dali. Ainda vi, pelo rabo do olho, o mágico caído no chão, e o motorista ajudando ele a se levantar.
Eu disse pro Mauro que não tinha mais nada a ver com aquele homem, e passamos a noite muito felizes num motel. Mas, lá no fundo, eu já sabia que aquela ia ser a nossa última noite.

Agora vem a parte mais triste, aquela que eu nem gosto de contar. Mas, se eu não contar, quem é que vai entender a minha história? Na quarta-feira ele não apareceu na porta da repartição. De noite, acordei com uma dor esquisita no peito. Era como se tivessem me enfiado um espinho bem grande ali. Levantei cambaleando e acendi a luz. Ia chamar minha mãe, mas graças a Deus antes disso resolvi dar uma olhada no espelho. Desabotoei a camisola no lugar onde estava doendo. E tive que colocar a mão na boca, para não gritar.
Havia uma ferida enorme ali, bem no lugar onde tinha estado a fada. Digo que era uma ferida porque não tenho outra palavra pra usar, mas talvez não fosse bem isso. Era redonda e inchada, toda verde. No meio tinha um buraquinho de onde saía sangue sem parar. Era só um fiozinho, mas não estancava. Coloquei band-aid, gaze, tudo que tinha no armário de remédios. Nada adiantava. No dia seguinte fui para a repartição com um pacote de algodão na bolsa, e passei o dia trocando para não manchar a roupa. De tão apavorada, nem conseguia prestar atenção no trabalho.
Telefonei um monte de vezes para o mágico. O telefone não atendia. Nem pensei em ir ao médico. Pra quê? Eu já sabia muito bem o que tinha. Sabia também que só aquele homem seria capaz de me curar -- se quisesse. Com toda a certeza, eu ia ter de pedir.
No fim da tarde, me arrastei até o prédio onde ele morava. Estava com medo, medo de sangrar até morrer. O fiozinho não secava, e eu nunca tinha me sentido tão fraca, em toda a minha vida.
O porteiro me disse que o senhor do 57 tinha saído, e não sabia quando ele ia voltar.
Pedi para esperar, e me sentei num dos sofás do saguão. Fiquei ali por horas, até tarde da noite. Às vezes a minha cabeça ia caindo de tanto sono, mas eu fazia força para não dormir
-- Me esperando, querida?
Sempre me chamava de querida, o desgraçado. Acordei, olhei para o alto e lá estava ele, sorrindo como se nada tivesse acontecido. Não sei se foi impressão minha, mas me pareceu até que estava maior, mais forte. Ali de pé, olhando para mim, vestido com um terno preto, parecia o homem mais poderoso do mundo.
-- Tira essa coisa de mim -- pensei que fosse gritar, mas a voz saiu baixa e rouca da minha garganta -- Tira, pelo amor de Deus.
Ele não disse nada, mas o sorriso se acentuou na sua cara. Limpei a garganta.
-- Eu nunca te fiz mal nenhum, porque você faz isso comigo? Não seja ruim. Faça essa ferida sumir.
Sempre sorrindo, ele pegou a minha mão e a levou aos lábios:
-- Só depende de você -- disse.

No dia seguinte, eu falei pro Mauro que queria terminar. Tinha pensado muito, e achava que já estava na hora de ter uma situação mais firme com outra pessoa. Afinal das contas, ele não podia assumir um compromisso comigo.
Já foi bem triste ter de falar aquilo, mas o que mais me doeu foi a cara do Mauro. Parecia que estava sentindo nojo de mim. Acho que, depois de ver aquele carro bonito, ele pensou que eu fosse ficar com o mágico por dinheiro. Coitado, se ele soubesse.
De um jeito ou de outro, a verdade é que nunca mais conversou comigo. Me virava as costas na repartição, acho até que começou a falar mal de mim -- como se já não bastasse a Salete me fazendo a caveira! Fui ficando isolada ali naquele ambiente. Logo eu, que sempre gostei tanto de conversar, me divertir, fazer zona. Fora que não conseguia mais vender os meus produtos. Não só ninguém comprava (e davam umas desculpas furadas, de que faltava dinheiro, bem no começo do mês), como também o mágico me proibiu de viajar para o Paraguai.
Proibir talvez seja exagero. Mas ele começou a dizer que aquela viagem não devia me fazer bem para a saúde: ainda mais agora no inverno, com aquele frio terrível. Garanti que nunca tinha tido nem um resfriado. Então ele começou a falar, com aquele tom meloso que usava ultimamente, e que me dava tanto ódio:
-- Não resfriou ainda mas um dia pode se resfriar, meu bem. Se você ficar doente, quem é que vai cuidar da sua mãe? (Como se ele estivesse ligando muito). Além disso, é perigoso. Um dia desses você pode até ser assaltada, andando com essa sacola por aí.
Eu sabia que aquilo tudo não era uma conversa, uma tentativa de me convencer: era uma ordem, mesmo. E o jeito era obedecer. Mesmo assim, ainda tentei discutir:
-- Mas, se eu parar de vender, vai faltar dinheiro lá em casa...
-- Não seja por isso, você sabe que sempre pode contar comigo. Se faltar algum dinheiro no fim do mês, peça pra mim.
Foi o que eu fiz, mas o que ele me dava era uma miséria.
O tempo foi passando, e cada vez ele mandava mais na minha vida. Começou até a implicar com as minhas roupas; achava que eu usava saias muito curtas. Eu abria a boca para protestar e lembrava da ferida. Depois que parei de sair com o Mauro, o sangue secou, mas o caroço verde continuava ali, como se fosse uma lembrança. Pedi que ele tirasse aquilo também, mas o mágico fez que não ouviu.
O que eu não passei dali por diante! Da única vez em que briguei com ele depois disso - quando me proibiu de ir ao cinema com uma prima -- ele fez uma coisa horrível comigo. Depois do cinema, no ônibus de volta para casa, senti alguma coisa me espetando. Olhei, e nem posso dizer que fiquei espantada com o que vi. Haviam uns fios de arame, pretos mas fininhos como se fossem cabelo, crescendo na palma da minha mão. Passei o resto da viagem escondendo aquilo da minha prima, e no dia seguinte lá estava eu, às oito da manhã, na porta do prédio dele. Igualzinho como da outra vez. Antes de fazer os fios de arame sumir, ele me obrigou a pedir desculpas e a prometer que nunca mais sairia sem ele.
A partir daí, queria que eu dormisse quase toda noite no apartamento dele. Depois que ele caía no sono, eu ficava acordada até tarde, pensando na minha vida.

À tarde, ao voltar do serviço, eu sentava perto da janela do apartamento, olhando as pessoas andarem no calçadão, na hora em que as luzes se acendiam. Tanta gente lá embaixo, livre para sair, entrar nos bares, passear na praia, sentir a areia fofa nos pés. Aqui em cima, só eu, presa por uma coleira invisível àquele homem e seus ternos velhos, suas gravatas-borboleta, seu apartamento mofado.
Minha vida ia se encolhendo, sumindo, como aquelas plantas que a gente tira do mar e vão diminuindo no seco. Ele agora me fazia passar dias seguidos no seu apartamento. Em casa não tinha telefone e eu tinha que ligar pra Dona Carmem, a vizinha, pra saber da minha mãe. Quando voltava para casa, mamãe me olhava com um jeito triste, sem dizer nada. Ah, se eu pudesse explicar! Mas ela era capaz de achar que eu estava ficando louca. E, de qualquer jeito, que ia adiantar?
No trabalho, não conversava com mais ninguém. Fazia meu serviço e ia embora cedo. Ele sempre estava na porta, encostado no carro, com aquele eterno sorrisinho de lado.
Eu já sabia qual seria o próximo pedido dele. Pedido, não: ordem. E sabia que não ia demorar. Cada vez que ele abria a boca, eu pensava: é agora. No dia em que ele falasse, eu teria de obedecer, sem discussão.
Eu pensei, sim, muitas vezes pensei em matar o mágico. Matar enquanto ele dormia. Podia enterrar uma faca, dessas bem afiadas, no seu peito. Até o cabo. Mas, e se ele acordasse? E se antes de morrer abrisse os olhos e me visse? Seus últimos pensamentos podiam servir para me fazer alguma coisa horrível. E aí, eu teria de passar o resto da vida com uma cicatriz no meio do rosto, o peito deformado, a perna manca. Se não fosse pior.
Um dia, ele falou. Estávamos à noite no apartamento, ele lendo um daqueles livros grossos, e eu sentada no sofá, morta de chateação -- porque agora ele já não me levava a lugar nenhum. Estava sem dinheiro, o desgraçado. Uma hora, pousou o livro no colo, olhou para mim e disse:
-- Estive pensando, querida.
É agora, eu pensei. É agora mesmo.
-- Acho bobagem você continuar trabalhando naquela repartição. É muito cansativo, e você ganha pouco. Além disso, aquilo não é ambiente para você.
-- Mas -- tentei argumentar, sentindo que gaguejava -- se eu não trabalhar, quem paga meu aluguel, as contas de casa?
Ele se aproximou, todo meloso:
-- Ora, desde quando isso é problema? -- e acariciava meu pescoço, com aqueles dedos de sapo. Você muda para cá e nós damos uma pensãozinha para a sua mãe. Assim -- sorriu -- você fica só cuidando de mim.
Fiquei quieta, sem dizer uma palavra. Mas ele insistiu:
-- E então, que acha da idéia, querida?
-- Preciso pensar -- respondi, num fio de voz . É uma decisão muito importante, não posso responder assim do dia para a noite.
Ele olhou para mim, com um vago ar de ameaça no rosto. Mas acabou se afastando, com uma risadinha: "Não pense muito tempo, minha querida. Tenho pressa de receber uma resposta."
Nos dias seguintes eu fiquei enrolando, inventando uma desculpa atrás da outra. Tinha que falar com a minha mãe -- disse. Mas tinha que ir falando aos poucos, devagarzinho, porque afinal das contas ela sofria do coração. Eu via nos olhos dele que não acreditava nas minhas desculpas, mas estava se divertindo comigo. Era como um gato que já decidiu matar o rato - mas antes, quer brincar um pouquinho.
Numa manhã de quarta-feira, a brincadeira terminou. Eu estava em casa, e só percebi as letras vermelhas na minha barriga na hora de tirar a roupa pro banho. Dessa vez não consegui segurar um berro. Minha mãe correu para a porta e perguntou o que estava acontecendo.
-- Não é nada, mãe. Não é nada -- eu arquejava, do outro lado da porta. Naquele instante eu soube que morreria contente, se pelo menos conseguisse escapar dele. O resto não importava, mesmo que depois ele me matasse.
Fiz minha mãe arrumar as malas e expliquei que ia viajar. Uma viagem bem longa, não sabia quando voltava. Ela ia ficar na casa da Tia Nicinha. "Mas eu não gosto dela, você sabe muito bem", gemeu minha mãe, aflita. "A gente vive brigando". "Não interessa, é sua irmã e vai cuidar bem de você", repliquei, ocupada em enfiar todas as minhas roupas dentro de outra mala. "Você vai embora com aquele homem?" perguntou de repente minha mãe, me olhando firme. Então eu expliquei:
-- Não, mãe, pelo contrário. Estou fugindo dele.
Depois disso ela não reclamou de mais nada. Disse até que a Tia Nicinha, apesar de chata, tinha bom coração. Perguntou quando eu mandava notícias. Eu disse que não sabia.
Estava louca para ir embora, e já estava a caminho da Rodoviária quando me lembrei de uma coisa. Ter um monte de tatuagens no meio do corpo ainda vá, mas eu não ia passar o resto da minha vida com aquelas letras horríveis na barriga, marcada com o nome dele, como se fosse um boi. Aquelas letras ele tinha que tirar. E eu já sabia até como.
Deixei a bagagem nos armários da Rodoviária e fui até o apartamento dele, pintada e arrumada. Entrei com a minha chave e esperei até que ele voltasse do almoço. Enquanto esperava, revistei as gavetas e catei tudo que tinha por ali -- dinheiro, uma ou outra jóia. Não era muito mas dava pra me aguentar um tempo onde eu fosse ficar.
Quando ele chegou, abri um sorriso enorme e disse que já tinha decidido tudo. Hoje ia ser o meu último dia na repartição, só pra me demitir e assinar os papéis. Nem falei das letras na barriga, ri e brinquei com ele. Perguntei se não queria me acompanhar até lá, e me buscar no fim do dia:
-- Vai ser um prazer -- ele respondeu, todo contente. De passagem pelo espelho do corredor endireitou a gravata.
Depois que vi o carro dele sumir na esquina, entrei na repartição, sem falar com ninguém. Fui direto pro banheiro, ergui a blusa e olhei. A pele estava branca como antes, graças a Deus. E se tudo desse certo eu nunca mais ia ver aquele homem.

Aqui nessa cidade, até que eu me arrumei rápido. Arranjei emprego como secretária do Seu Vargas, que é dono dos dois supermercados daqui e está ficando muito rico. Ganho a metade do que ganhava na repartição; mas também, nem tenho onde gastar o dinheiro, porque não tem nada para fazer na cidade. Dá até para mandar uma grana pra mamãe. O único problema é que o seu Vargas foi logo se metendo a besta comigo. Vivia perguntando se eu não queria sair, tomar um sorvetinho à noite, não sei mais o quê. E me sorria com aqueles dentes enormes que não deixam ele fechar a boca.
Fui enrolando, porque na cidade ninguém sabia ao certo se o homem era solteiro, casado ou separado. Uns diziam uma coisa, outros diziam outra... E eu queria saber onde estava me metendo.
Três meses se passaram e eu estava feliz da vida, achando tudo uma beleza, livre como um passarinho. Seu Vargas já tinha me levado ao melhor restaurante da cidade, onde quase passei mal de tanto comer. Foi no dia seguinte, quando atravessava a praça para trabalhar, que vi de novo o mágico.
Ele estava bem na minha frente. Se eu tivesse tido tempo de pensar, fugiria correndo. Mas a verdade é que, quando olhei pra ele, não senti mais tanto medo. Estava abatido, parecia cansado e até mais velho. Já nem usava mais a gravata-borboleta.
-- Você fugiu de mim -- me disse, com um sorriso triste.
Não respondi nada. Que adiantava brigar? Eu estava ali, ele tinha me descoberto, e a minha única esperança era que me perdoasse.
-- Ingratidão dói -- disse ele, pondo a mão no peito, como se fosse fazer um discurso. -- Você me traiu. Me apunhalou pelas costas. Queria fazer de você minha rainha, e você fugiu do meu amor -- Não disse nada, mas pela minha cara ele deve ter adivinhado que estava me enchendo o saco. Mesmo assim, continuou -- Do meu lado nada ia lhe faltar, você ia viver rodeada de luxo.
-- Luxo? -- explodi eu. Mas que besteira! Você queria era que eu passasse o vida inteira trancada naquela sua porcaria de apartamento, com certeza cozinhando pra você! O dinheiro que você me dava nunca chegou nem pra eu comprar uma roupa decente!
Os olhos dele nadavam, se afogavam em mágoa e rancor:
-- Você me desprezou, desprezou a minha mágica... Fez pouco dos meus poderes... Mas eu sou um homem orgulhoso, não vou ficar rastejando a seus pés. Vou-me embora. Não se preocupe, você nunca mais me verá.
Ele deve ter ouvido meu suspiro de alívio, porque logo em seguida mudou de cara. Ergueu a sobrancelha, piscou um dos olhos e me disse, com aquele sorrisinho que eu odiava tanto:
-- Mas antes quero lhe deixar uma lembrança, minha querida. Uma recordação minha no seu corpo, como todas aquelas outras, nos bons tempos, lembra-se? -- e fez um gesto leve com as mãos. Me encolhi toda, apavorada, mas ele nem me tocou. Virou as costas e foi embora, andando devagar. Sumiu na esquina. Depois disso, nunca mais o vi -- e essa é toda a minha história, juro por Deus.
Dele, só me resta a última lembrança que deixou no meu corpo -- a mais definitiva, que jamais sumirá, e que todos podem ver. Quando percebi o que ele tinha me feito, fiquei como louca, mas agora já me conformei. Também as coisas, aos poucos, estão se ajeitando. Seu Vargas foi muito compreensivo, e disse que entende a minha situação. Depois da licença-maternidade, se eu quiser mudar para a sua casa, não devo fazer cerimônia -- diz ele, sorrindo carinhosamente e se esforçando, ao mesmo tempo, para fechar a boca.

FIM

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