Nota: Segundo a autora, Renata Cezimbra, esta é uma novela de vampiros que já está indo para o sétimo capítulo, baseada a história de Xica da Silva.

Procura-se :: Renata Cezimbra

Capítulo 1: O começo dos fatos

Não sei como começar a contar a história que vivi no ano 2000. Pode até ser errado, mas vou começar falando um pouco de mim: meu nome é Patrícia Oliveiro Puentes, nasci em Florianópolis em 25/08/80, filha de uma cabeleireira chamada Cristina e de pai falecido quando eu tinha dois anos. Sou enteada do professor de biologia Mauro Borges, que eu considero meu segundo pai, e tenho mais cinco irmãos (dois não são, mas eu considero como se fossem): o Paulo, filho da minha mãe com o meu falecido pai, dois anos mais velho do que eu, a Mariana e o Alberto, filhos do meu padrasto, que têm respectivamente dois e quatro anos a mais que eu, e os que nasceram da união da minha mãe e do Mauro: a Lia e o Maximilien, que são respectivamente, três e dois anos a menos do que eu. Além disso, sou negra, alta, olhos pretos, cabelo comprido, magra, nariz arrebitado, e me acho bonita. Sou dona de personalidade forte, com o costume de responder provocações e sair no tapa, mas, tendo de me segurar em alguns momentos, já que compostura é essencial quando se está em universidade. Também adoro ajudar as pessoas, sendo bondosa com todos e outras coisas que falarei com mais detalhes no decorrer dessa narrativa.
Tudo isso que vou contar começou com um esbarrão numa locadora. Era uma sexta de verão e o meu pai pediu para eu alugar o filme “Xica da Silva” pela décima-sexta vez. Lógico que eu fiquei doida da vida, já que o meu pai tinha visto o filme quinze vezes e eu sinceramente não sabia o que ele via de bom nessa personagem, mas, o chato disso é que ele me pedia isso bem na hora que eu começava a estudar para as provas de fim de semestre de Arquitetura e História que eu cursava na USP naquele ano.
Então fui lá e quando cheguei, tava cuspindo gente até pela janela, todo mundo disputando cada filme no tapa e eu tinha que abrir caminho no meio do mundaréu com2  dois livrões enormes nas mãos que eu peguei emprestados com a Mila, uma amiga minha.
Como eu tinha que estudar muito, tinha que pegar tudo o que eu pudesse, já que algumas coisas não tinham nos livros da faculdade. De repente, quando eu menos esperava, trombei com um cara todo de preto no corredor dos filmes de terror e caí com livros e tudo no chão, sendo que os livros por pouco não foram na cara dos que estavam na volta. Eu, óbvio, fiquei pê da vida e gritei, chamando a atenção de todo mundo: “Cara, você não olha por onde anda, não?!”
O cara que trombou comigo respondeu com uma voz doce e máscula: “Desculpe, eu estava distraído, deixe eu te ajudar a recolher as suas coisas do chão”. Apesar de ainda estar doida da vida, deixei ele me ajudar e quando o vi melhor, ele era um galã de cinema: loiro, alto, atlético, olhos azuis, nariz fino e bem talhado, queixo quadrado e firme, pele branca, parecendo um pouco pálida e esses traços formando um lindo rosto no qual estava estampado um sorriso brilhante como uma jóia, mostrando dentes brancos como leite e um olhar muito sensual, que deixava qualquer uma caindo de quatro.
Ele também me viu melhor e quando o fez, ficou espantado, dizendo algo que me deixou entre o riso e o desconcerto: “Xica?!”
Respondi: “Você se enganou, na verdade me chamo Patrícia. Você deve ter me confundido com alguém que deve ser conhecida sua”.
Percebi que ele ficou bem envergonhado e me disse, pondo a mão no meu rosto:
- Desculpe ter te chamado assim, é que você é igualzinha a ela, o rosto, os olhos, o cabelo, tudo.
Quando senti a mão dele em mim, ao invés de reagir mal, não esbocei reação, como se estivesse hipnotizada, mas tive um arrepio que me percorreu o corpo todo, pois a mão dele era gelada como a de um morto.
Perguntei: - Posso saber quem é você?
- Sou João Fernandes de Oliveira – respondeu ele, já recomposto da trombada.
Eu, já recomposta do fato, quase caí de costas ao ouvir o nome dele e falei:
- Você tem o mesmo nome de um famoso contratador da época do Brasil Colônia.
Notei que ele ficou bem desconcertado e me perguntou, como se quisesse disfarçar:
- O que você veio fazer aqui, justo hoje que esse lugar tá tão cheio?
Respondi, explicando o que era e ele me falou: “Se você quiser, eu pego o filme para você e te acompanho até em casa depois, já que a essa hora é perigoso alguém bonita como você andar sozinha” .
   Fiquei um bocado espantada com o que ele queria fazer, ficando espantada com o cavalheirismo dele e aceitando, mesmo não o conhecendo direito e resolvi esperar na porta, pois eu não agüentava ficar em lugares cheios, assim, eu senti um cutucão e quando vi, era a Maria Flor, uma outra amiga minha, que me perguntou:
Como vai amiga? “Bem”, respondi, em seguida contando o que acontecera comigo até aquela hora, o que deixou a Flor branca como cera e me dizendo, totalmente apavorada e segurando as minhas mãos: “Eu te peço por tudo que é mais sagrado, não se aproxime dele de nenhuma maneira e ande sempre com o seu crucifixo”, em seguida indo embora.
Fiquei sem saber o que pensar e muito menos entendi o que ela quis dizer, já que eu não vira nada de errado com ele, apesar dele ter as unhas um pouco maiores que o normal, o que deixava ele com um aspecto estranho, mas, nem me importei com esse detalhe, já que eu conhecia uns góticos lá da faculdade que tinham esse e outros detalhes.
   Aí eu notei que ele voltara com a fita, perguntando: “Vamos?”.  Acompanhei-o e fomos conversando pela rua sobre os mais variados assuntos, entre eles algumas perguntas que eu fazia sobre a vida dele, mas, ele desconversava com outro assunto no meio e eu, claro, ficava intrigada, mas, eu pensava que, como ele não me conhecia direito, não queria dizer nada, até que nós chegamos na frente da minha casa e eu disse: “Obrigada e até um outro dia”.
- De nada, foi ótimo acompanhar você - retribuiu ele, sorrindo.
Fiquei bem ruborizada e ao mesmo tempo feliz com o sorriso, entrando em casa em seguida e sendo abordada pelo meu pai: “Trouxe a fita? Você sabe o quanto quero escrever um livro sobre Xica da Silva”. Entreguei-a e fui direto para o meu quarto, já que a minha mãe tava ocupada fazendo quitutes para a festa que ia ter amanhã no colégio da Lia e, ela detestava ser perturbada quando trabalhava.
Estudei durante horas seguidas até que dormi em cima dos meus livros, para depois acordar com o telefone tocando às 4:30 da manhã e tendo que atendê-lo, mesmo morta de cansaço e quando ouvi, era a Maria Flor me dizendo: “Espero que você não se zangue, mas eu preciso muito falar com você”. 
- Ai, mas a essa hora, eu tô pateta de cansaço - falei, quase dormindo.
- Não se preocupa, eu vou aí - disse a Flor, desligando o telefone.
Claro que eu pensei que a Flor não seria louca de bater aqui no meio da noite, mas, alguns minutos depois, eu vi uma sombra na janela e me assustei muito, pensando que era um ladrão, só que ouvi a voz fina da Flor: “Desculpa o jeito de entrar, é que eu não quis bater na porta a essa hora, então, subi pela janela”.
- É, mas você podia ter caído, sua doida! - exclamei, querendo esganá-la.
- Já sou acostumada a fazer isso - disse a Flor, sorrindo.
Eu não falei mais sobre aquilo e perguntei o que ele queria.
Ela me respondeu: “É sobre aquilo que eu te falei na locadora”.
Bem espantada com o motivo que levou a Flor lá em casa, perguntei: “Ô Flor, o que você viu de errado no cara que eu conheci lá na locadora?”
Ela me respondeu, gesticulando: “É bem simples, ele é um vampiro!”
Achei que ela tava de gozação comigo e falei rindo: “Você tá ficando doida, isso não existe!
- É, mas você já viu alguém com a pele pálida de um morto, unhas maiores que o normal? e além disso, o único com esse nome morreu em 1779 - me disse a Flor, apavorada com o meu espanto e incredulidade diante do que ela disse. 
Argumentei que existia gente com o mesmo nome e que tinha esses detalhes, mas eu sabia que ela não ia escutar, pois era teimosa como uma mula.
Muito calma, a Flor me disse: “É compreensível que você não acredite no que eu falei, afinal, para uns, isso é fantástico demais para ser verdade” - e, em seguida, ela foi embora pelo mesmo lugar por onde ela tinha entrado.
Eu me deitei na cama, mas não consegui mais dormir, então me levantei e desci pra cozinha pra tomar um lanche, lembrando do que a Flor tinha me dito e ouvindo um sino na minha cabeça dizendo pra eu me cuidar. Isso significava que eu tinha ficado bem atordoada com o que ela me disse, mas, tinha um detalhe: se eu não acreditei, pra que eu ia ficar assim?
   Mesmo assim, eu estava atordoada. Fazendo meu lanche calmamente, pensava em tudo que tinha me acontecido nas últimas horas até às 15 para as 7 da manhã, quando o telefone tocou na sala e eu pensei: “Se for a Flor, bato o telefone na cara dela!”
Atendi e era a Mariana, minha irmã do coração: “Sei que você deve estar descansando agora, mas, você não quer ir na Casa de Portugal hoje à noite?”   
Apesar de ter ficado feliz, eu não queria ir, pois esse lugar era uma boate e eu detestava esses lugares, mas principalmente o dono dela, um cara chamado Cabral, de quem eu ouvia falar muito, mais conhecido como “Sargentão”, pelo jeito como ele tratava os que trabalhavam na boate, além de adorar rock pesado, dançar funk como ninguém, cheirar pó e beber até dizer chega. Eu só aceitei porque ia com a Mari, que só agora tinha conseguido uma folga, já que ela trabalhava e estudava pra caramba sem descansar.
Todo mundo na minha casa acordou e o dia correu bem normal, apesar de o meu pai não estar trabalhando e a mãe ter deixado o salão aos cuidados da Maria Alzira, já que os dois foram na festa do colégio da Lia junto com o Maximilien. Eu não pude ir por causa dos meus estudos, já que as provas da universidade começavam segunda.
   Passei o dia estudando até que os meus pais e o Max chegaram e a mãe gritou: “A Mari chegou, Patty!
Porém, eu não parava de pensar nos fatos ocorridos entre a noite de ontem e a madrugada de hoje, tanto que eu nem liguei para o que a mãe disse e só me dei conta quando vi uma morena alta de pele branca e olhos muito azuis entrando no meu quarto e me abraçando, dizendo: “Que saudade, mana!”
Eu me virei e falei muito feliz: “Eu tava morrendo de saudades também, minha lindinha!”
Então nós começamos a conversar pra caramba, enquanto a gente bagunçava o meu armário buscando uma roupa pra eu vestir e a gente sair.
Escolhi um vestido vermelho tomara-que-caia acima do joelho e a Mari tirou da sacola que ela trazia um vestido preto básico de uma manga, acima do joelho e com uma fenda na perna esquerda e depois, passamos meia hora nos arrumando, fazendo maquilagem e penteado no cabelo.
Descemos e fomos muito elogiadas pelos nossos pais e irmãos na sala, quando a mãe falou: “Espero que vocês se divirtam” e o pai, com aquele senso de superproteção:- Não bebam demais e não usem drogas, por favor.
 - Elas não têm mais 10 anos Mauro, elas já são bem grandinhas pra se cuidarem sozinhas - disse a minha mãe pra ele.
Saímos andando pela rua depois de nos despedirmos de todos em casa, quando uma moto passou e uma voz falou:- Ora, senhorita Patrícia, você está muito linda esta noite.
Quando olhei, reconheci o Fernandes debaixo do capacete e falei: “Que surpresa a gente se encontrar assim, como vai?”
- Bem- ele respondeu, enquanto a Mari perguntou quem ele era e eu expliquei como a gente tinha se conhecido, apresentando ele pra ela, que disse empolgada: “Que jeito inusitado de conhecer um gato desses, ai maninha, se ele nos desse uma carona até a boate!”
- Que é isso Mari, que falta de educação, além disso, nem teria lugar na moto pra nós duas- falei, olhando o Fernandes totalmente envergonhada.
- Sem problema nenhum, o assento da moto é bem grande e eu estou indo pra “Casa de Portugal”, aposto que vocês estão indo pra lá, não é? - disse o Fernandes, nos oferecendo o assento da moto.
Nós duas nem perguntamos como ele sabia que a gente ia pra lá, mas eu pude apostar que foi pelas nossas roupas, então, aceitamos a carona e fomos levadas até a boate em menos de 10 minutos.
Quando nós chegamos, ele entrou direto, sem nos dar tempo para agradecer a carona, enquanto nós ficamos deslumbradas com o local, que parecia um castelo medieval e tava bombando de gente, espalhada pelos três andares que eram ligados por escadas em caracol.
Ficamos olhando tudo tim-tim por tim-tim, pensando em quem teria tanto dinheiro para fazer uma obra como aquela, além de pagar um bando de pessoas que dançavam, serviam, faziam drinques e etc.
Foi quando nós duas fomos tocadas no ombro por uma mão muito gelada, levando um tremendo susto e ouvindo uma voz em seguida: “Sejam bem-vindas, gatinhas”.
Eu me virei e disse, reconhecendo o dono:- Boa noite, senhor Cabral.
Quando ele me viu, disse o mesmo que o Fernandes: “Xica?!”. “Não sou essa que você disse, me chamo Patrícia”- falei, olhando-o de cima a baixo e ficando impressionada com o jeito dele.
- Desculpe, é que você é igualzinha a ela- disse ele, me olhando maliciosamente e ao mesmo tempo com jeito de quem não acreditava em mim.
Quando percebi o jeito que ele me olhava, fiquei puta da vida, afinal, quem ele pensava que era pra me dirigir aquele olhar, sendo que ele nem me conhecia. Então, eu vi que a Mari observava a expressão do meu rosto e comentei com ela o que acontecera e ela me disse: “Pudera, com esse vestido, você deixa qualquer um malucão”. Comecei a pensar e realmente devia ser o vestido, mas eu nem imaginava que a noite seria longa.
Dançávamos, até que a Mari resolveu “ficar” com um cara que era meu colega na universidade, então, comecei a olhar, procurando alguém conhecido para conversar, até que fui surpreendida por alguém dizendo: “Não quer dançar?”
     Olhei e era o tal Cabral, mas eu não ia com a cara dele, só que, como eu estava sozinha, aceitei. Começamos a dançar, sendo que eu me sentia uma amadora perto dele, já que ele dançava como ninguém, além de achá-lo um bocado bonito: loiro como o Fernandes, olhos castanhos, um pouco mais alto que eu, físico de atleta, nariz pontudo, isso apesar do Fernandes ser um Rodolfo Valentino.
Depois de umas cinco horas dançando com ele, a curiosidade me bateu e eu perguntei:
- Quem é essa Xica com quem você e o Fernandes me confundiram quando me viram?
Só de ver a cara que ele fez, misturada com tudo que ele tinha bebido até então, eu já me arrependi do que disse e foi aí que ele me respondeu com voz de quem tinha bebido todas e me olhando furiosamente, como se quisesse me atacar: “Se eu fosse explicar, você não me entenderia, então me diz onde tá esse filho-da-puta do Fernandes, que eu quero dar umas porradas nele!
Percebi de cara que o Cabral não gostava dele, mas eu não entendi o porquê, já que eu achava o Fernandes um cara legal, então respondi: “Só vim de carona com ele e depois não o vi mais, mas acho que ele tá dançando.
Pra que eu fui falar, devia ter ficado de boca fechada se eu tivesse adivinhado que ele ia sair pela boate chutando o pau da barraca e dizendo todo o estoque de palavrões e desaforos que podia, deixando todos atordoados não só com o tom de voz que ele usava, mas também com o bafo de álcool que a boca dele soltava.
Eu tive que rir, pois ele tava tão bêbado que quase caía por cima das mesas, mas depois meu riso virou susto, pois começou um quebra-pau na pista de dança e eu tive que me esconder pra não levar um soco de graça, já que gente que tentava apartar a briga levava socos e tapas.
Então subi para o segundo andar e fiquei esperando a briga terminar, quando tive minha boca tapada por uma mão e fui agarrada por trás por outra, que me levou corredor adentro para um quarto que eu não sei como, estava lá. Quando chegamos, fui jogada com o rosto pra baixo numa cama pra não ver o cara que me pegou e amarrada nos pulsos e tornozelos por cordas grossas. Depois que ele terminou o “serviço”, ele me virou pra frente e aí eu vi o Cabral, que gritou, me sacudindo e me esbofeteando: “Você achou que eu não ia te pegar, não é, Xica da Silva? Ou você achou que eu fui otário suficiente pra acreditar que você fosse outra pessoa, hein?!
Eu pensei, desesperada e chorando de dor na cara: “Mas ele tá bêbado, como é que pode...?” , e ele, parecendo a meu ver que tinha lido a minha mente, disse, me mostrando duas presas enormes: “Você deve estar imaginando como estou tão sóbrio, não é? Uma criatura como você devia saber que nós, os vampiros, nos recuperamos rápido de porres assim.
Eu imaginei que ele tava chapado, já que ele cheirava pó, mas eu vi que ele não estava assim, já que meu pai costumava conversar comigo e com os meus irmãos sobre drogas e também mostrar pra gente como ficavam pessoas que as usavam. Foi aí que eu comecei a chorar cada vez mais e gritar feito louca na tentativa de chamar a atenção de alguém, fazendo ele me dizer rindo e tirando uma estaca do bolso do sobretudo: “Gritando por socorro, vagabunda? Pensei que você fosse forte e corajosa o suficiente pra se desamarrar e me bater, mas, vi que te matar será mais fácil que pensei!”
Eu quis gritar que não era a Xica enquanto ele vinha na minha direção, mas, quando vi o Cabral ser atingido por um pontapé direto na cara desferido por um Fernandes enfurecido, percebi nele a mesma coisa que eu vi no Cabral e ouvi-o dizer: “É melhor você não encostar a mão nela, seu berdamerda!”
O Cabral se levantou de um pulo do chão e disse provocando: “Você vai me impedir, é?!”
Foi aí que a bomba explodiu, os dois se pegaram na porrada e eu tentei me desamarrar desesperada, machucando cada vez mais os meus pulsos. De repente, vi um cara vindo com uma adaga e me desesperei, pensando que ele ia ajudar o Cabral me matando, mas quando vi, ele cortou as cordas e disse: “É melhor você ir antes que a coisa piore”.
Olhando-o melhor, o reconheci como um antigo colega meu de escola, Maurício, conhecido pelo apelido de Mercúrio lá onde eu morava, e falei: “Quanto tempo faz que a gente não se vê, cara!”
- É verdade, faz tempo mesmo, garota - respondeu ele, que me olhou carinhosamente e me ajudou a sair dali pra um lugar seguro.
Fui deixada em uma das mesas do fundo pelo Mercúrio e saí dali pra procurar a Mari pra gente ir pra casa, só que, dei de cara com o Fernandes no pub da esquerda e falei enfurecida: “Nem te apresenta, que eu não vou te escutar, tenho uma cruz e atiro ela em você se chegar perto”.
- Não adianta Patty, porque você não a tem e nem adianta procurar a sua maninha, porque ela está na casa do seu colega fazendo “aquelas coisas” e não vai voltar até a manhã, então me deixe te levar pra casa, pois você já não está com cabeça pra ficar aqui- me disse o Fernandes calmo e oferecendo carona.
O modo de falar dele me tranqüilizou não sei como e aceitei, sendo levada pra casa em menos de 10 minutos, ainda morrendo de dor no rosto, pulsos e tornozelos devido à agressão que eu sofrera.
Quando chegamos, ele me disse: “Me perdoe por não ter te dito a verdade antes, não queria que você fosse vítima disso e espero que você fique melhor”.
Falei já mais calma: “Agradeço por você ter salvo minha vida e perdoe o jeito que falei com você, estava muito assustada, afinal, eu nem imaginava que essas coisas existiam”.
- Sei, convivo com isso e você também, mas não percebe - me disse o Fernandes, que em seguida me disse: - Agora preciso ir, então tome banho, coma e descanse, que é o melhor a fazer agora.
Fiquei feliz com o conselho, mas sinceramente não entendi o que ele quis dizer com a primeira frase que ele tinha dito e me despedi dele, nem imaginando que iria descobrir muitas coisas, entre elas que é sempre bom escutar quando as pessoas nos alertam e que ali começava a maior aventura da minha vida.

Voltar Subir