TOMATES A CARBONIZARA :: Paula Rodriguez
Ultimamente ando meio metida. Especialmente na cozinha. Minha mãe estava em casa e eu pensei em esnobar um pouquinho, preparando uma entrada especial: tomates assados à carbonara.
Comecei a preparar o menu sob o olhar admirado da minha progenitora, que pensava que o meu cardápio não ia muito além do ovo frito. Utilizando todos os aparelhos de última geração, com especiarias frescas e toda a parafernália necessária para impressionar minha mãe, terminei o dito cujo e o coloquei no meu supermodernérrimo forno, vitrocerâmica, vários programas de assado, temperaturas minimíssimas e megamáximas, relógio, despertador e programador e nem sei mais o quê.
Depois de acertar o cronômetro, enquanto o tomatinho ia adquirindo a fachada esperada, bebíamos uma cervejinha.
Passados os minutos, indicados graças ao dispositivo de alerta, vou toda faceira desligar o forno. Com tanta presunção em cima, confundi os botões e ao invés de desligá-lo liguei o dispositivo de autolimpeza, que consiste num superaquecimento do forno para queimar a eventual gordura instalada nas paredes do mesmo. E nesse caso especial, para cremar o meu prato.
Sobram explicaçoes referentes ao meu desespero, ao ver o jantar a ponto de carbonizar. Eu deveria estar da cor do tomate, antes do seu juízo final. Já minha mãe, pálida, depois de um engasgo de tanto rir.
Restabelecido o fôlego e a concentração, depois de checar os botõezinhos e luzinhas vários, consegui parar o processo de limpeza. Pensando que havia salvado a tempo o cardápio e a minha dignidade, tentei abrir o forno. Segundo engano: o meu modernérrimo forno tem um dispositivo de bloqueio da porta em caso de superaquecimento, para não queimarmos as mãos (somente os tomates).
Enquanto a minha mãe estava a ponto de engasgar novamente, fui procurar o manual do tal aparelho. Como em todo manual, ali haviam várias hipóteses de possíveis problemas, mas claro, nada contra presunção e metidez. Por um tempo ficamos ali paradas olhando o destino do nosso jantar. Me senti como um cachorro na frente do forno de frango assado da padaria. Provavelmente eu tinha o mesmo olhar inteligente do cão, esperando que por passe de mágica a porta se abrisse.
Apelei para a ignorância e completamente cheia de más intenções fui atrás de uma ordinária chave de fenda.
Foi quando o meu marido chegou. Horrorizado com o que eu estava a ponto de fazer, foi procurar o danado do manual, seguro de que lá encontraria a resposta, ora vamos! Engenheiro defensor da HI-Tec, na segunda olhadela no manual deu com a seqüência de botões que traria a minha redenção. Orgulhoso, lá vai ele apertar os tais botões e então... eis que a porta... continuou fechada! Depois de várias tentativas, passou do vocabulário técnico ao de baixo calão. Nem por isso o forno se intimidou, ficou ali firme, forte e fechado. Li nos seus olhos verdes um intenção mundana e seguindo minha intuição dei-lhe a chave de fenda. O jantar foi salvo, apesar da consistência crocante do tomate. O única coisa que foi difícil de digerir foi minha mãe, dizendo que isso nunca aconteceu com o seu forninho Eletrolux lá de Minas.
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