Sonho e Realidade :: Marisa P. Carvalho

Acordo e olho para o lado. Espaço vazio. Não há ninguém.
Lembro que quando deitei, ele estava ali, ao meu lado.
Chamo em voz alta por ele:
- Amor, você está me ouvindo?
Ninguém responde.
Levanto-me rapidamente, meus pés automaticamente já entram nos confortáveis chinelos, e passando a mão pelos cabelos para ajeitá-los, vou ao banheiro molhar o rosto com água fria para despertar de vez.
Sigo pelo comprido corredor, olhando para os cômodos vazios.
Chego à sala, nada, ninguém.
Olho o terraço, onde êle adora ficar admirando o céu, a praça, o movimento lá embaixo, de pessoas que parecem formiguinhas e de carros que parecem brinquedinhos, mas ele não está lá.
Vou à cozinha, tudo calmo. Nem sombra dele.
Aproveito para ir à área de serviço, pegar toalhas limpas para meu banho matinal.
Depois do banho, vou à cozinha preparar o café.
O telefone toca. É ele.
- Você tem quinze minutos para descer. Estou aqui na porta do prédio, diz ele.
Eu me assusto.
- Mas o que aconteceu? Você me deixa preocupada.
- Desça logo.
- Então eu desço.
Apresso-me em descer, cheia de ansiosa curiosidade.
E lá está ele, com um largo sorriso nos lábios, à minha espera. Está apoiado em um belo carro azul metálico, novinho em folha, tinindo.
- Mas???
- É todo seu. Feliz aniversário amor.
Neste momento, um telefone toca. Olho para o lado, estou em minha cama, ora! eu estava sonhando. Atendo.
- Sou eu (diz ele asperamente). Eu saí mais cedo porque estava sem sono, como sempre. Vou para o sítio de minha irmã pescar com meus sobrinhos e não sei quando volto. Assim que chegar eu telefono.
- Ah sei. Boa viagem. Um beijo.
Mais uma vez ele nem se lembrou que é o dia de meu aniversário.
Vou ao mercado, compro o melhor champanhe e um vidrinho de caviar.
À noite, coloco o CD de minhas músicas clássicas preferidas e tomo meu champanhe degustando meus canapés feitos com caviar, apreciando da sacada, a silhueta engalanada da terceira cidade do mundo, a cidade que me encanta, com seus contrastes. Uma cidade que é como a minha vida: surpreendente e povoada de pessoas estranhas.
A campainha toca. Atendo.
- Feliz aniversário! Você pensou que eu tivesse esquecido? diz ele sorrindo, e me entrega um lindo ramalhete de rosas vermelhas. Preso no buquê, uma caixinha, que eu abro rapidamente. É aquela linda aliança de brilhantes que vimos juntos na joalheria há meses, e que eu tanto admirei.
O telefone toca. Olho ao meu redor, estou na cama de novo. Outro sonho?! Não acredito.
- Puxa vida, pensei que você já tivesse saído. Faz favor, dá uma olhadinha na primeira gaveta do armário, parece que eu esqueci meus documentos aí.
- Outra vez

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