Voltar quando se vai e ir quando se volta :: Mariluiza Campos

Decidi agir assim para provar que ir e vir é apenas questão de  caminhar, tanto faz se prá cá, se prá lá. Como eu já conhecia o prá cá, achei que o bom seria ir para o prá lá. E assim fui eu, pulando e dançando até ficar tão descansado que só melhoraria carregando algum peso bem puxado. Não foi preciso procurar muito: o chão era coberto de pequenos pedregulhos de dois quilos cada um. Bastava um pontapé bem dado e eles saiam voando, leves leves. Enfiei todos os que pude num saco de supermercado e continuei o caminho carregando os pedregulhos que, a medida que eu andava, iam se diluindo em uma água gosmenta que começou a fazer um riacho ao longo do caminho. Não custou muito para que peixes do tamanho de travessas se pusessem a nadar no riacho que logo virou um rio caudaloso que, em vez de descer a encosta por onde eu subia, ia para cima junto comigo até desaguar numa cratera que havia no topo. Como a cratera era de um vulcão, seu calor fez ferver a água e os peixes depois de algumas horas estavam todos cozidos e prontos para serem comidos. Claro que toda a população do lugar não se fez de rogada e sentou-se à mesa, feliz com o festim. "Formidável, Fantástico, Fenomenal!" todos rugiam, como um bando de leões famintos. E continuavam a se banhar na água tépida, ao mesmo tempo que jogavam tranca e xadrez, claro que para espairecer, enquanto aguardavam a hora de enterrar os ossos. Não eram bem ossos, pois que peixe não tem propriamente ossos, mas sim espinhas e era o enterro dessas que todos esperavam pacientemente. Eu, descansado, alimentado e encantado com a boa ação praticada naquela noite, fui em frente, pois já era hora de voltar. Nada como cumprir com seu lazer e trabalhar com gosto até o amanhecer. Ontem eu contei o resto desta estória.
Não deixem de ler.

Voltar Subir