PÉ NA BUNDA :: Estela Siqueira

Foi uma sociedade perfeita. Ele entrou com o pé, eu com a bunda. Agora, fala sério: como é que se leva um pé na bunda dois encontros depois e sem trepada? Levar o pé na bunda tá valendo, mas sem trepada? Aí que não entendi mesmo. Aliás, já estava entendendo pouca coisa.
O cara passou um ano e três meses - tão aí minhas amigas Cinthia e Andréia que não me deixam mentir - me secando. Secando à distância. Seguinte: vamos sempre ao mesmo bar, o Caneco de Barro, meio de tudo, meio GLS. Ele fazia um bico de garçom lá, afinal, estava desempregado. E passou um ano e três meses na paquera. Quando chegou o momento, dei um toquinho. Achava que ele era homem para namorar, não para só ficar. Quando ele arrumou emprego (motorista) e sumiu de lá a carência bateu; corri atrás: liguei e convidei. Fomos. Me confessou seu medo pela diferença de classes (eu sou jornalista). Mesmo assim rolou - quase que forçadamente um segundo encontro...
- Buáááá. Eu sei que você está no fechamento, mas não tinha pra quem ligar. – Essa sou eu, chorando, num telefone público enquanto ligo para Andréia, minha amiga editora de jornal,  e conto o bolo que levei no terceiro encontro.
- Ele não apareceu, daí liguei pra casa dele e o viado tá dormindo. A mãe dele me deu o recado.
Fizemos uma reunião de emergência, eu Andréia e Cinthia, e chegamos a conclusão: ele é um bundão.
Chorei, ri, chorei, fiquei puta, chorei mais ainda, tripudiei e assim passei os dias. Semanas depois voltamos ao Caneco, onde ele não punha mais os pés há tempos - nem quando estávamos juntos brevemente - e fiquei com um carinha. Ué, afinal, qué que tem? Fidelidade a um toco? Quequéisso minha gente?
Sábado seguinte vou com outras amigas (Adriana e Deca) a outro bar. Preciso de distância e tempo para me reorganizar e esquecer, digo a elas firme, resoluta, poderosíssima.
Cinthia e Andréia vão ao Caneco. Dia seguinte telefone toca: "Ele estava lá".
- Ué, porque meu coração está aceleradíssimo?, questiono surpresa e puta ao mesmo tempo.
- Ele foi me ver.
- Ele foi me ver porque contaram pra ele do carinha que eu fiquei.
- Esquece essa porra porque ele foi tomar uma cerveja. Ele simplesmente não está a fim.
- Ele foi me ver, minha intuição diz.
Como minha intuição sempre me fode, perguntei à minha mãe. Ela, que não mente, sentencia: "ele foi te ver".
Agora, tô assim, toda boba. E adivinha aonde vou sábado?

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