DE COMO O CIÚME TAMBÉM MOVE O MUNDO :: Andréia Alves Pires

Mais de uma vez desejei os presentes que a minha mãe comprava para dar a algum aniversariante. Brinquedo, livro, massa de modelar, roupa, davam uma pontinha dolorida de ciúme, mas nenhum desses me arranhou tão fundo como as cinco marias.
Naquele sábado a mãe chegou da rua e me chamou para mostrar o que havia comprado para uma minha amiguinha. Cinco saquinhos de pano, recheados de areia, com carinhas de meninas... Cada saquinho de uma cor, com cabelos, olhinhos, boquinha e um pinguinho de nariz riscados com lã fininha.
Nunca disse nada do buraco que nascia e me roía por dentro quando ela metia os presentes em pacotes colados por durex e com uma frescurinha na borda feita pela dobra cuidadosa do papel. Mas ela sabia.
A festa da minha amiguinha deve ter sido bacana, não sei, só lembro que a mocinha não me deixou brincar com o presentes e uma hora depois do embrulho desfeito, surgiu areia grossa no tapete da sala.
Durante uma semana trabalhei quietinha, os apetrechos esparramados na pedra da frente da minha casa. Cortei uma camiseta velha, peguei a lata das costuras sem que a mãe percebesse e, a partir da larga experiência que adquiri costurando duas saias para uma boneca, tentei fazer as minhas próprias mariazinhas.
Fiz três muito feias, muito. E de uma delas a areia caía pelos cantinhos quando a lançava para o alto. Bom, desisti dos panos e fui pro pátio catar cinco pedrinhas.

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