Uma madrugada quente faz qualquer andarilho sonolento
e solitário contemplar um céu estrelado. No começo
de fevereiro, nenhuma parte do país quer desalegrar um só
dia. No entanto, aquela madrugada que eu atravessava encarando as estrelas
estava perigosamente quieta. Então eu parei e fiquei observando
melhor uma estrela que tinia mais que as outras.
Estrela qual nada; me fez forçar as vistas porque, a princípio,
eu não acreditava no que acontecia: o ponto reluzente no céu
preto era uma gota de orvalho que despencava sobre mim.
Gota qual nada. Era, de fato, uma estrela. Não uma estrela quilométrica,
mas sim do tamanho que se vê a olho nu daqui da terra: um gracioso
cisco brilhante, que repousou suavemente em minha mão aberta, qual
uma pluma encantada.
- Você está numa enrascada.
Olhei para os lados, à procura do dono da voz. Minha expressão
fosse de espanto, pois não havia ninguém naquela rua larga
além de mim mesmo. E na escuridão tremenda, possível
foi identificar uma carcaça fedida de cachorro enfiada pela metade
num saco plástico, o que atraía insetos nojentos e ruidosos.
- É a lágrima de Latona - prosseguiu a voz, que logo descobri
provir de um cuco pousado num galho fino. - Você vai começar
a ver as coisas como uma mãe.
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