A Escrevinhadora, além de escrever - como é sua função - adora cinema e já viu milhões de filmes. A Escrevinhadora acha Bergman tão legal quanto o Pato Donald, e Coppola tão divertido quanto o Homem Aranha. De tanto ver filme, ela acabou craque em chavões de roteiro, e foi ficando de saco cheio com o tratamento que os roteiristas dispensam às pobres mulheres. A Escrevinhadora desconfia que metade da humanidade, mais ou menos, seja mulher, e que essa metade mereça ver na tela um pouco mais da sua realidade. Mas em vez de reclamar - mesmo porque os roteiristas de Hollywood são surdos - a Escrevinhadora resolveu escrever! O texto abaixo mostra o que ela acha do tratamento das mulheres no cinema. Mais palavras são desnecessárias. Se alguém resolver filmar esse roteiro, é só entrar em contato com a autora, que por um modesto cachê também se candidata ao papel principal. Afinal, é preciso apoiar o cinema brasileiro!
A REBELDE

(Interior de um apartamento. Noite. Ruído de porta se abrindo. A luz se acende e entra MARGARETH, uma mulher bonita, de cerca de trinta anos. Joga seu casaco em cima do sofá. Senta-se, pega o telefone e disca um número)

MARGARETH - Alô? Susan? Sou eu, Margareth. Recebi seu recado. Vamos sair hoje à noite? Não, não tenho nenhum compromisso. (Pausa). Robert? Querida, Robert já era...

(A câmera mostra um vulto se esgueirando em direção à sala, vindo da cozinha. É PAUL, o serial-killer, que se aproxima com um sorriso sinistro nos lábios, e uma serra elétrica nas mãos)

(MARGARETH continua falando ao telefone)

MARGARETH - Está tudo acabado. Ele disse que eu me dedicava demais ao trabalho e não lhe dava atenção. (Pausa). Se estou bem? Ora, não se preocupe. Eu vou sobreviver.

(PAUL aproxima-se do sofá)

MARGARETH - Não dependo dele para nada. Sou uma mulher independente. Tenho meu trabalho, meu apartamento, minha cachorra pincher, uma assinatura da Cosmopolitan....

(PAUL aproxima-se ainda mais do seu objetivo, deslizando por trás do sofá)

MARGARETH (começando a chorar) - Oh, Susan, estou tão infeliz! (Pausa) Você acha mesmo que ele se sente ameaçado pelo meu sucesso?

(Nesse momento, PAUL, com um grito selvagem, salta para cima de MARGARETH. Ela pára de chorar e dá um pulo, deixando que ele se esborrache no sofá)

MARGARETH (furiosa, sem sinal de lágrimas) -- Ah, não! Isso não! Definitivamente, não estou pra esse tipo de coisa! Saia daqui, seu pervertido! (Olhando para fora da tela) Charles! Me tire já desse roteiro!

Um minuto depois, Margareth estava sentada sob a escrivaninha de Charles, o roteirista, com as belas pernas à mostra.
-- Charles - disse, tirando um cigarro do maço dele - mais uma vez, você me decepcionou.
Charles olhou pateticamente para as teclas do computador.
-- Seja justa, Margareth... É um belo papel. Você é uma mulher bonita, emancipada, dona do seu nariz...
-- Ou seja, o alvo perfeito para um assassino maluco!
-- Não fale assim do Paul. Coitado... Ele sofreu abuso sexual quando criança. Vou mostrar isso daqui a umas três cenas, num flashback com imagem desfocada e música dramática.
-- Charles, meu querido! Aquele cara é um debilóide repugnante, com flashback ou sem flashback!
Acendeu o cigarro, aspirou uma longa tragada e começou a balançar as pernas.
-- Margareth... - protestou o roteirista, timidamente.
-- Que foi, Charles?
-- O cigarro, querida...
-- A fumaça te incomoda? -- perguntou ela, soltando uma baforada no rosto do escritor.
-- De forma alguma, honey, eu também fumo. Mas você, como mocinha do filme, não devia... Hoje em dia não é bem-visto.
-- Pois eu vou fumar quanto quiser, ouviu, Charles? Mesmo que você me faça morrer de câncer.
-- Claro, claro. Não se exalte. Bem, você não quer mesmo voltar para esse roteiro?
-- Nem pensar. Você deveria ter vergonha de assinar aquele amontoado de clichês.
-- Por quê você é sempre tão crítica, Margareth? -- gemeu o roteirista.
-- Porque é meu pescoço que está em jogo! Aquele débil-mental está lá dentro do seu roteiro, lembra? me esperando com uma serra elétrica. Aliás, cá entre nós, Charles: não dava pra escolher uma arma mais original?
-- Eu pensei num picador de gelo...
-- Outro clichê. Com o dinheiro que você ganha, poderia ter idéias melhores.
-- Bem, Margareth, vamos ao que interessa - disse Charles. - Posso lhe arrumar outro papel.
-- Qual?
-- Esse você vai adorar, Margareth! -- garantiu o escritor, girando a cadeira em direção ao teclado. - Não é um personagem passivo. Você vai ser uma mulher forte, corajosa, colocada numa situação de perigo, enfrentando homens de arma na mão!
-- Hum, não sei não... - hesitou a personagem. - Armas nunca foram meu forte. Estragam as unhas...
-- Pode ser, mas imagine só a glória: você vai invadir uma ilha do Caribe...
-- Uma aventura imperialista, já sei.
-- ...dominada por traficantes de droga - Charles completou, apressadamente.
-- Eu morro? - perguntou Margareth, desconfiada.
-- Não.
-- Bem, pode ser interessante.
-- Você vai adorar - garantiu Charles.

(Exterior. Dia. MARGARETH está oculta na selva tropical, esperando uma oportunidade para invadir a mansão do chefe do Cartel de Acapulco, PEPE GONZÁLEZ. A casa está cercada de guardas, armados até os dentes.

MARGARETH tem o rosto sujo de pó. Usa botas e uniforme de camuflagem)

(CORTA para a entrada dos fundos da mansão, onde apenas um bandido está de guarda, mascando chicletes).

(CORTA de volta para MARGARETH. Ela tira do bolso uma granada e arranca o pino com os dentes. Arremessa-a a uma grande distância).

(CORTA para a granada voando, e explodindo a uns duzentos metros de distância da casa).

(CORTA para a porta dos fundos. O guarda não está mais lá).

(CORTA para MARGARETH, que sai correndo em direção à porta dos fundos).

(CORTA para MARGARETH invadindo a mansão. Ela atravessa a cozinha cheia de empregados brandindo sua metralhadora. As criadas, que estavam depenando um frango, gritam assustadas. Penas voam para todos lados. MARGARETH entra na sala, onde o chefe do poderoso cartel do narcotráfico, PEPE GONZÁLEZ, desfruta de um momento de lazer - com uma loira no colo.)

LOIRA (salta do colo de Pepe) - Ooooh!

PEPE GONZÁLEZ (levantando-se, assustado) - Aaaah!

MARGARETH - Parados, os dois! E você, menina, fique longe desse bandido. Isso não é companhia para você.

PEPE GONZÁLEZ - Quien és usted, mujer?

MARGARETH - Minha identidade não lhe interessa, seu porco! Sua quadrilha foi desbaratada, e nesse momento uma tropa de marines está invadindo a ilha!

PEPE (empalidecendo) - Mentes, perra maldita!

MARGARETH - El carajo que eu minto! (Voltando-se para a loira) Desculpe, querida. Depois que arranjei esse emprego, fiquei meio boca-suja. A convivência, sabe como é...

LOIRA (com um gesto compreensivo) - No te molestes, chiquitita.

MARGARETH (aproximando-se da LOIRA, sem tirar PEPE GONZÁLEZ da mira) - Não aguento a curiosidade: o seu cabelo é natural?

LOIRA (jogando os cabelos para trás, orgulhosa) - Jamás! Soy rubia de farmacia legitima!

MARGARETH (interessada) - E que produto você usa?

PEPE GONZÁLEZ (batendo os pés no chão, furioso) -- Ustedes podrián me dar un momentito de atención?

MARGARETH (voltando-se para ele, aborrecida) - O que você quer, seu delinqüente?

PEPE GONZÁLEZ - Rendate imediatamente, mujer! Mis hombres están volvendo!

MARGARETH (encostando a metralhadora na cabeça do traficante) - E daí?

(Nesse momento, um batalhão de narcocapangas invade a sala)

NARCOGUARDA - Solte nuestro jefe, gringa!

MARGARETH - Nem pensar, muchacho. E tem mais: um passo à frente, e seu chefe vira coador de chá.

(Os bandidos, confusos, confabulam entre si).

NARCOGUARDA - Que quieres para libertar nuestro amado jefe?

MARGARETH - Nada, cucaracha. Caso você ainda não tenha percebido, o gramado dessa casa está cheio de marines altos, fortes e loiros...

(JOHNNY entra pela porta da frente)

MARGARETH -- ... como esse aí! Hello, Johnny!

JOHNNY (Alto, loiro e musculoso, mas com um ar meio abobalhado) - Margareth! O que você está fazendo?

MARGARETH (mantendo a arma apontada contra a cabeça de PEPE GONZÁLEZ) - Desbaratando uma quadrilha internacional de traficantes, seu bocó.

JOHNNY - Cuidado, Margareth! Esse homem é perigosíssimo!

MARGARETH - Não tem problema, baby...

(Os outros marines invadem a sala e rendem os narcobandidos. CORTA para a tenda de campanha, à noite. JOHNNY está bebendo uma lata de cerveja, enquanto MARGARETH, protegida por uma cortina feita de lençóis, toma banho.)

MARGARETH (Saindo do banho, envolta em uma toalha) - Ufa, que cansaço! Ainda tive que fazer hora extra e dar umas bolachas no Pepe González! Senão aquele bigodudo não revelaria nunca o esconderijo da droga...

JOHNNY - Ora, Margareth, venha relaxar... Tome uma cerveja.

MARGARETH (sentando-se ao lado dele) - Claro.

(Abre uma lata de cerveja com os dentes. JOHNNY aproxima-se dela)

JOHNNY (insinuante) -- Margareth... Você fica uma graça sem aquelas botas.

MARGARETH (lançando-lhe um olhar irritado) - Tá me estranhando, Johnny-boy?

JOHNNY (acariciando-lhe as costas) - Ora, querida, estamos aqui sozinhos... Vamos aproveitar o momento, aprofundar a nossa relação, etc. (Começa a beijar o pescoço de MARGARETH).

MARGARETH (empurrando-o) - Sai pra lá!

JOHNNY (surpreendido) - Que houve, baby?

MARGARETH - Você não faz o meu tipo, Johnny. Seus músculos me dão aflição.

JOHNNY - Ora, Margareth, não seja reprimida. Qual é o seu problema? Frigidez? Não temos tempo pra esse tipo de frescura. Afinal, depois da batalha, o herói tem direito a um pouco de lazer. Certo, honey?

MARGARETH (levantando-se, furiosa) - Herói? Que herói?

JOHNNY (levantando-se, também) - Eu, é lógico.

(MARGARETH aplica uma gravata em JOHNNY, que cai no chão. Ela coloca o pé em seu pescoço.)

JOHNNY (incrédulo) - Que é isso, Margareth? Ficou louca? É tensão pré-menstrual?

MARGARETH - Já te mostro a minha tensão pré-menstrual, Johnny-boy! Então eu entro naquela casa, eu rendo o bandido, eu contenho os capangas e
você é o herói dessa joça? Over my dead body! Se dependesse de você, a essa hora aqueles traficantes estavam na China! Você mal consegue mascar chiclete e carregar a sua Uzi ao mesmo tempo, seu retardado!

JOHNNY (mal conseguindo falar, sufocado pelo pé de MARGARETH) - Sim, mas eu sou homem!

MARGARETH - E daí?

JOHNNY - Ora, Margareth, não seja ingênua. Por acaso vai querer tomar o meu lugar? Nunca leu nenhuma pesquisa de marketing? O pessoal do outro lado da tela é jovem e homem! Um filme de porrada com mulher no papel principal é ridículo! Você já teve seus quinze minutos de fama! Agora, tire esse pé da minha garganta e trate de ficar pelada, porque está na hora de ter um pouco de sexo nesse filme!

MARGARETH (cada vez mais furiosa) - Você quer sexo, Johnny? Quer sexo? Pois vá lá fora trepar com um tanque! (Chuta JOHNNY para fora da tenda. Olha para fora da tela.) Charles! Me tire imediatamente daqui, seu verme!

No escritório do roteirista, Margareth andava de um lado para outro:
-- Charles, essa foi demais. Foi um ultraje. Só lamento ter deixado minha metralhadora na tenda. Eu devia te fuzilar agora mesmo!
-- Margareth, meu amor, tente se acalmar. Vamos começar como duas pessoas adultas... digo, como uma pessoa e uma personagem adultas. E a propósito, sua toalha está caindo.
-- E daí? -- disparou ela, irritada.
-- Eu fico sem jeito, baby. Não posso me envolver com minha personagem. O Sindicato dos Roteiristas me processaria por falta de ética!
-- Não mude de assunto, Charles! Eu quero saber porque você me colocou no papel de objeto sexual para aquele retardado lá do roteiro!
-- Margareth, para o seu governo, o estúdio está investindo milhões naquele personagem! Milhões!
-- Pois então desperdiçaram cada centavo! -- vociferou ela - O cara é irrecuperável, Charles. Imagina: eu faço todo o trabalho e ele quer o papel principal.
-- Mas Margareth - começou o escritor, cheio de tato - na verdade, sabe, ele é o protagonista.
-- O quê? -- berrou ela, virando-se para o autor.
-- Margareth, a toalha caiu! Você está nua em frente à janela! -- e Charles precipitou-se para fechar as persianas.
-- Protagonista? Que história é essa? -- prosseguiu Margareth, nua em pelo.
-- Não saia daqui, Margareth. Eu vou pegar um roupão pra você - disse Charles, saindo do quarto. - Depois a gente conversa.
Voltou dali a alguns minutos e estendeu o roupão à sua personagem, desviando os olhos do seu corpo:
-- Margareth, honey, tente entender. Não estamos aqui para fazer a revolução no cinema!
-- Já deu pra notar - resmungou Margareth, terminando de amarrar o cinto.
-- O Johnny pode ser meio bobinho, mas ele disse a verdade. Temos que nos esforçar para atingir a garotada, entende? A audiência jovem.
-- A audiência jovem, por mim, pode ficar em casa batendo punheta - disse ela, raivosa.
-- Querida, também acho isso lamentável… Mas, afinal, estamos nesse negócio pra ganhar uma grana, concorda?
-- Eu não faço mais esse filme! Não vou bancar coadjuvante do Johnny. E, aliás, não quero mais participar dos seus filmes, Charles!
-- Margareth, não faça isso! -- implorou o roteirista - Você é a melhor personagem feminina que eu já criei. Sou praticamente seu pai! Você não pode me abandonar assim!
-- Está bem - cedeu ela, com voz cansada. - Última chance. O que você tem para me oferecer?
Charles correu para o computador:
-- É o papel da sua vida, Margareth - murmurou, enquanto abria um dos arquivos do editor de texto - Um verdadeiro tour de force! E você será a personagem principal, estará no centro das atenções. Isso eu posso garantir!

(Interior. Noite. Estamos de novo no apartamento de MARGARETH. Dessa vez, entretanto, não há nenhum serial killer à vista. MARGARETH está no quarto, beijando apaixonadamente seu amante, MICHAEL)

MARGARETH - Oh, Michael! Vamos para a cama agora mesmo! Faça amor comigo!

MICHAEL - Margareth... não sei se é uma boa idéia. Eu sou um homem casado...

MARGARETH - Não sou ciumenta. (Beija-o de novo).

MICHAEL - Oh, Margareth! Não posso resistir! Você é um verdadeiro furacão!

MARGARETH (derrubando-o na cama) - E isso que eu ainda não te mostrei a posição do javali perneta.

(Os dois começam a fazer amor em ritmo aeróbico. Cinco minutos depois, estão deitados lado a lado)

MICHAEL (satisfeito) - Que tal, querida? Isso não foi fantástico?

MARGARETH (visivelmente decepcionada) - Isso o quê? Ah, sim, claro! Muito legal, querido.

MICHAEL - E você é mesmo o máximo. Onde aprendeu todas essas coisas?

MARGARETH (sorrindo, complacente) - Você não quer realmente saber, baby.

MICHAEL (ajeitando-se ao lado, de costas para MARGARETH) - E agora, se você não se importa, vou tirar uma soneca. Depois preciso ir embora, para levar minha mulher ao chá beneficente e minha filha ao teatro infantil.

(E cai no sono. MARGARETH fica olhando para a câmera durante vários minutos, com cara de bunda. De repente, ouve-se uma voz vinda de fora).

VOZ - Margareth! Pegue a faca!

MARGARETH (olhando em torno de si, atrapalhada) - Faca? Que faca?

VOZ - A sua faca, Margareth!

MARGARETH (cada vez mais confusa) - Mas faca onde? Pra quê? Não estou entendendo.

(Suspiro de impaciência, vindo do lado de fora. Um minuto depois, a porta se abre, e CHARLES aparece, muito aflito)

MARGARETH (sobressaltada) - Charles! O que você está fazendo aqui?

CHARLES (impaciente) - Pegue a faca, Margareth! Debaixo do travesseiro! Rápido, antes que Michael acorde!

(MARGARETH levanta o seu travesseiro e acha debaixo dele uma enorme faca, brilhante e afiada)

MARGARETH (pegando a faca) - E agora? O que eu faço com isso?

CHARLES - Você esfaqueia o Michael, é claro. Se não me engano, escrevi aqui... (consulta o roteiro) isso mesmo, "esfaqueia-o com violência incomum".

MARGARETH (incrédula) - Eu? A troco de quê? Só porque ele é ruim de cama?

CHARLES (exasperado) - Não! Porque ele não vai abandonar a família pra ficar com você!

MARGARETH - Graças a Deus!

CHARLES - Margareth, você não está entendendo? Esse é o grande papel da sua vida! O ápice de sua carreira! Essa mulher solitária, infeliz, vai assassinar o amante que não compreendeu suas necessidades afetivas! Em outras palavras: comeu e não casou! Você vai matá-lo após o ato sexual, como uma viúva negra! Depois, vai jogar seu corpo num misturador de cimento e...

MARGARETH - Chega, Charles. Já entendi. (Levanta-se da cama e começa a vestir suas roupas, que estão espalhadas pelo chão).

CHARLES - Margareth! O que você está fazendo? Não me diga que não gostou do papel!

MARGARETH (continuando a vestir suas roupas) - Adorei. Sexo, mentiras e misturador de cimento.

CHARLES - Isso!

MARGARETH - Segura essa faca.

(CHARLES apanha a faca, espantado. MARGARETH vai sacudir MICHAEL na cama)

MARGARETH - Michael... benzinho... acorde, querido!

MICHAEL (completamente tonto) - Agora não, Margareth... talvez daqui a umas duas semanas... (Abre os olhos, sem entender o que se passa. De repente, vê CHARLES com a faca na mão. Dá um berro e encosta-se à parede, apavorado).

MARGARETH - Charles, esse é Michael. Michael, esse é Charles. Ele é... hum... digamos que ele tem um relacionamento especial comigo.

MICHAEL (em pânico) - Não me mate, por favor! Foi ela que deu em cima de mim!

MARGARETH (sacudindo a cabeça) - Mas que deselegância, baby! (Abre a gaveta, pega um revólver e atira-o para Michael) Pronto, agora você já tem como se defender.

CHARLES - Margareth! Você ficou louca?

(Nesse momento, MICHAEL atira em sua direção. Erra o tiro por pouco. CHARLES joga-se no assoalho)

CHARLES (desesperado) - Pelo amor de Deus, Margareth! Como é que a gente sai daqui?

MARGARETH - Ora, espere o fim do filme!

(MICHAEL, em cima da cama, dispara outro tiro. MARGARETH se dirige à porta)

MARGARETH - Tchauzinho, pessoal!

CHARLES - Margareth! Volte aqui! Margareth!

Momentos depois, uma bela mulher cruzava o saguão do edifício de luxo onde morava Charles D. - um dos mais famosos roteiristas de Hollywood, responsável por sucessos como "Sede de Sangue", "A Máfia não manda flores" e "A assassina solitária". Belas mulheres saindo do apartamento de Charles D. não eram nenhuma novidade. O porteiro perguntou se ela queria um táxi.
-- Não precisa. Eu vou a pé - disse a desconhecida, sorrindo. Saiu pela porta, dobrou a esquina e nunca mais foi vista.
Ou, pelo menos, não no cinema.

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