(Interior de um apartamento. Noite. Ruído
de porta se abrindo. A luz se acende e entra MARGARETH, uma mulher bonita,
de cerca de trinta anos. Joga seu casaco em cima do sofá. Senta-se,
pega o telefone e disca um número)
MARGARETH - Alô? Susan? Sou eu, Margareth. Recebi seu recado. Vamos
sair hoje à noite? Não, não tenho nenhum compromisso.
(Pausa). Robert? Querida, Robert já era...
(A câmera
mostra um vulto se esgueirando em direção à sala,
vindo da cozinha. É PAUL, o serial-killer, que se aproxima
com um sorriso sinistro nos lábios, e uma serra elétrica
nas mãos)
(MARGARETH
continua falando ao telefone)
MARGARETH - Está
tudo acabado. Ele disse que eu me dedicava demais ao trabalho e não
lhe dava atenção. (Pausa). Se estou bem? Ora, não
se preocupe. Eu vou sobreviver.
(PAUL aproxima-se
do sofá)
MARGARETH - Não dependo dele para nada. Sou uma mulher independente.
Tenho meu trabalho, meu apartamento, minha cachorra pincher, uma assinatura
da Cosmopolitan....
(PAUL aproxima-se
ainda mais do seu objetivo, deslizando por trás do sofá)
MARGARETH (começando
a chorar) - Oh, Susan, estou tão infeliz! (Pausa) Você
acha mesmo que ele se sente ameaçado pelo meu sucesso?
(Nesse momento, PAUL, com um grito selvagem, salta para cima de MARGARETH.
Ela pára de chorar e dá um pulo, deixando que ele se esborrache
no sofá)
MARGARETH (furiosa, sem sinal de lágrimas) -- Ah, não!
Isso não! Definitivamente, não estou pra esse tipo de coisa!
Saia daqui, seu pervertido! (Olhando para fora da tela) Charles!
Me tire já desse roteiro!
Um minuto depois, Margareth estava sentada sob a escrivaninha de Charles,
o roteirista, com as belas pernas à mostra.
-- Charles - disse, tirando um cigarro do maço dele - mais uma
vez, você me decepcionou.
Charles olhou pateticamente para as teclas do computador.
-- Seja justa, Margareth... É um belo papel. Você é
uma mulher bonita, emancipada, dona do seu nariz...
-- Ou seja, o alvo perfeito para um assassino maluco!
-- Não fale assim do Paul. Coitado... Ele sofreu abuso sexual quando
criança. Vou mostrar isso daqui a umas três cenas, num flashback
com imagem desfocada e música dramática.
-- Charles, meu querido! Aquele cara é um debilóide repugnante,
com flashback ou sem flashback!
Acendeu o cigarro, aspirou uma longa tragada e começou a balançar
as pernas.
-- Margareth... - protestou o roteirista, timidamente.
-- Que foi, Charles?
-- O cigarro, querida...
-- A fumaça te incomoda? -- perguntou ela, soltando uma baforada
no rosto do escritor.
-- De forma alguma, honey, eu também fumo. Mas você,
como mocinha do filme, não devia... Hoje em dia não é
bem-visto.
-- Pois eu vou fumar quanto quiser, ouviu, Charles? Mesmo que você
me faça morrer de câncer.
-- Claro, claro. Não se exalte. Bem, você não quer
mesmo voltar para esse roteiro?
-- Nem pensar. Você deveria ter vergonha de assinar aquele amontoado
de clichês.
-- Por quê você é sempre tão crítica,
Margareth? -- gemeu o roteirista.
-- Porque é meu pescoço que está em jogo! Aquele
débil-mental está lá dentro do seu roteiro, lembra?
me esperando com uma serra elétrica. Aliás, cá entre
nós, Charles: não dava pra escolher uma arma mais original?
-- Eu pensei num picador de gelo...
-- Outro clichê. Com o dinheiro que você ganha, poderia ter
idéias melhores.
-- Bem, Margareth, vamos ao que interessa - disse Charles. - Posso lhe
arrumar outro papel.
-- Qual?
-- Esse você vai adorar, Margareth! -- garantiu o escritor, girando
a cadeira em direção ao teclado. - Não é um
personagem passivo. Você vai ser uma mulher forte, corajosa, colocada
numa situação de perigo, enfrentando homens de arma na mão!
-- Hum, não sei não... - hesitou a personagem. - Armas nunca
foram meu forte. Estragam as unhas...
-- Pode ser, mas imagine só a glória: você vai invadir
uma ilha do Caribe...
-- Uma aventura imperialista, já sei.
-- ...dominada por traficantes de droga - Charles completou, apressadamente.
-- Eu morro? - perguntou Margareth, desconfiada.
-- Não.
-- Bem, pode ser interessante.
-- Você vai adorar - garantiu Charles.
(Exterior. Dia. MARGARETH está oculta na selva tropical, esperando
uma oportunidade para invadir a mansão do chefe do Cartel de Acapulco,
PEPE GONZÁLEZ. A casa está cercada de guardas, armados até
os dentes.
MARGARETH tem o rosto sujo de pó. Usa botas e uniforme de camuflagem)
(CORTA para a entrada dos fundos da mansão, onde apenas um bandido
está de guarda, mascando chicletes).
(CORTA de volta para MARGARETH. Ela tira do bolso uma granada e arranca
o pino com os dentes. Arremessa-a a uma grande distância).
(CORTA para a granada voando, e explodindo a uns duzentos metros de distância
da casa).
(CORTA para a porta dos fundos. O guarda não está mais lá).
(CORTA para MARGARETH, que sai correndo em direção à
porta dos fundos).
(CORTA para MARGARETH invadindo a mansão. Ela atravessa a cozinha
cheia de empregados brandindo sua metralhadora. As criadas, que estavam
depenando um frango, gritam assustadas. Penas voam para todos lados. MARGARETH
entra na sala, onde o chefe do poderoso cartel do narcotráfico,
PEPE GONZÁLEZ, desfruta de um momento de lazer - com uma loira
no colo.)
LOIRA (salta do colo de Pepe) - Ooooh!
PEPE GONZÁLEZ (levantando-se, assustado) - Aaaah!
MARGARETH - Parados, os dois! E você, menina, fique longe desse
bandido. Isso não é companhia para você.
PEPE GONZÁLEZ - Quien és usted, mujer?
MARGARETH - Minha identidade não lhe interessa, seu porco! Sua
quadrilha foi desbaratada, e nesse momento uma tropa de marines está
invadindo a ilha!
PEPE (empalidecendo) - Mentes, perra maldita!
MARGARETH - El carajo que eu minto! (Voltando-se para a loira)
Desculpe, querida. Depois que arranjei esse emprego, fiquei meio boca-suja.
A convivência, sabe como é...
LOIRA (com um gesto compreensivo) - No te molestes, chiquitita.
MARGARETH (aproximando-se da LOIRA, sem tirar PEPE GONZÁLEZ
da mira) - Não aguento a curiosidade: o seu cabelo é
natural?
LOIRA (jogando os cabelos para trás, orgulhosa) - Jamás!
Soy rubia de farmacia legitima!
MARGARETH (interessada) - E que produto você usa?
PEPE GONZÁLEZ (batendo os pés no chão, furioso) --
Ustedes podrián me dar un momentito de atención?
MARGARETH (voltando-se para ele, aborrecida) - O que você
quer, seu delinqüente?
PEPE GONZÁLEZ - Rendate imediatamente, mujer! Mis hombres están
volvendo!
MARGARETH (encostando a metralhadora na cabeça do traficante)
- E daí?
(Nesse momento, um batalhão de narcocapangas invade a sala)
NARCOGUARDA - Solte nuestro jefe, gringa!
MARGARETH - Nem pensar, muchacho. E tem mais: um passo à frente,
e seu chefe vira coador de chá.
(Os bandidos, confusos, confabulam entre si).
NARCOGUARDA - Que quieres para libertar nuestro amado jefe?
MARGARETH - Nada, cucaracha. Caso você ainda não tenha
percebido, o gramado dessa casa está cheio de marines altos, fortes
e loiros...
(JOHNNY entra pela porta da frente)
MARGARETH -- ... como esse aí! Hello, Johnny!
JOHNNY (Alto, loiro e musculoso, mas com um ar meio abobalhado)
- Margareth! O que você está fazendo?
MARGARETH (mantendo a arma apontada contra a cabeça de PEPE
GONZÁLEZ) - Desbaratando uma quadrilha internacional de traficantes,
seu bocó.
JOHNNY - Cuidado, Margareth! Esse homem é perigosíssimo!
MARGARETH - Não tem problema, baby...
(Os outros marines invadem a sala e rendem os narcobandidos. CORTA
para a tenda de campanha, à noite. JOHNNY está bebendo uma
lata de cerveja, enquanto MARGARETH, protegida por uma cortina feita de
lençóis, toma banho.)
MARGARETH (Saindo do banho, envolta em uma toalha) - Ufa, que cansaço!
Ainda tive que fazer hora extra e dar umas bolachas no Pepe González!
Senão aquele bigodudo não revelaria nunca o esconderijo
da droga...
JOHNNY - Ora, Margareth, venha relaxar... Tome uma cerveja.
MARGARETH (sentando-se ao lado dele) - Claro.
(Abre uma lata de cerveja com os dentes. JOHNNY aproxima-se dela)
JOHNNY (insinuante) -- Margareth... Você fica uma graça
sem aquelas botas.
MARGARETH (lançando-lhe um olhar irritado) - Tá me
estranhando, Johnny-boy?
JOHNNY (acariciando-lhe as costas) - Ora, querida, estamos aqui
sozinhos... Vamos aproveitar o momento, aprofundar a nossa relação,
etc. (Começa a beijar o pescoço de MARGARETH).
MARGARETH (empurrando-o) - Sai pra lá!
JOHNNY (surpreendido) - Que houve, baby?
MARGARETH - Você não faz o meu tipo, Johnny. Seus músculos
me dão aflição.
JOHNNY - Ora, Margareth, não seja reprimida. Qual é o seu
problema? Frigidez? Não temos tempo pra esse tipo de frescura.
Afinal, depois da batalha, o herói tem direito a um pouco de lazer.
Certo, honey?
MARGARETH (levantando-se, furiosa) - Herói? Que herói?
JOHNNY (levantando-se, também) - Eu, é lógico.
(MARGARETH aplica uma gravata em JOHNNY, que cai no chão. Ela
coloca o pé em seu pescoço.)
JOHNNY (incrédulo) - Que é isso, Margareth? Ficou
louca? É tensão pré-menstrual?
MARGARETH - Já te mostro a minha tensão pré-menstrual,
Johnny-boy! Então eu entro naquela casa, eu rendo o bandido, eu
contenho os capangas e você é o herói dessa
joça? Over my dead body! Se dependesse de você, a
essa hora aqueles traficantes estavam na China! Você mal consegue
mascar chiclete e carregar a sua Uzi ao mesmo tempo, seu retardado!
JOHNNY (mal conseguindo falar, sufocado pelo pé de MARGARETH)
- Sim, mas eu sou homem!
MARGARETH - E daí?
JOHNNY - Ora, Margareth, não seja ingênua. Por acaso vai
querer tomar o meu lugar? Nunca leu nenhuma pesquisa de marketing? O pessoal
do outro lado da tela é jovem e homem! Um filme de porrada com
mulher no papel principal é ridículo! Você já
teve seus quinze minutos de fama! Agora, tire esse pé da minha
garganta e trate de ficar pelada, porque está na hora de ter um
pouco de sexo nesse filme!
MARGARETH (cada vez mais furiosa) - Você quer sexo, Johnny?
Quer sexo? Pois vá lá fora trepar com um tanque! (Chuta
JOHNNY para fora da tenda. Olha para fora da tela.) Charles! Me tire
imediatamente daqui, seu verme!
No escritório do roteirista, Margareth andava de um lado para
outro:
-- Charles, essa foi demais. Foi um ultraje. Só lamento ter deixado
minha metralhadora na tenda. Eu devia te fuzilar agora mesmo!
-- Margareth, meu amor, tente se acalmar. Vamos começar como duas
pessoas adultas... digo, como uma pessoa e uma personagem adultas. E a
propósito, sua toalha está caindo.
-- E daí? -- disparou ela, irritada.
-- Eu fico sem jeito, baby. Não posso me envolver com minha personagem.
O Sindicato dos Roteiristas me processaria por falta de ética!
-- Não mude de assunto, Charles! Eu quero saber porque você
me colocou no papel de objeto sexual para aquele retardado lá do
roteiro!
-- Margareth, para o seu governo, o estúdio está investindo
milhões naquele personagem! Milhões!
-- Pois então desperdiçaram cada centavo! -- vociferou ela
- O cara é irrecuperável, Charles. Imagina: eu faço
todo o trabalho e ele quer o papel principal.
-- Mas Margareth - começou o escritor, cheio de tato - na verdade,
sabe, ele é o protagonista.
-- O quê? -- berrou ela, virando-se para o autor.
-- Margareth, a toalha caiu! Você está nua em frente à
janela! -- e Charles precipitou-se para fechar as persianas.
-- Protagonista? Que história é essa? -- prosseguiu Margareth,
nua em pelo.
-- Não saia daqui, Margareth. Eu vou pegar um roupão pra
você - disse Charles, saindo do quarto. - Depois a gente conversa.
Voltou dali a alguns minutos e estendeu o roupão à sua personagem,
desviando os olhos do seu corpo:
-- Margareth, honey, tente entender. Não estamos aqui para fazer
a revolução no cinema!
-- Já deu pra notar - resmungou Margareth, terminando de amarrar
o cinto.
-- O Johnny pode ser meio bobinho, mas ele disse a verdade. Temos que
nos esforçar para atingir a garotada, entende? A audiência
jovem.
-- A audiência jovem, por mim, pode ficar em casa batendo punheta
- disse ela, raivosa.
-- Querida, também acho isso lamentável
Mas, afinal,
estamos nesse negócio pra ganhar uma grana, concorda?
-- Eu não faço mais esse filme! Não vou bancar coadjuvante
do Johnny. E, aliás, não quero mais participar dos seus
filmes, Charles!
-- Margareth, não faça isso! -- implorou o roteirista -
Você é a melhor personagem feminina que eu já criei.
Sou praticamente seu pai! Você não pode me abandonar assim!
-- Está bem - cedeu ela, com voz cansada. - Última chance.
O que você tem para me oferecer?
Charles correu para o computador:
-- É o papel da sua vida, Margareth - murmurou, enquanto abria
um dos arquivos do editor de texto - Um verdadeiro tour de force! E você
será a personagem principal, estará no centro das atenções.
Isso eu posso garantir!
(Interior. Noite. Estamos de novo no apartamento de MARGARETH. Dessa
vez, entretanto, não há nenhum serial killer à
vista. MARGARETH está no quarto, beijando apaixonadamente seu amante,
MICHAEL)
MARGARETH - Oh, Michael! Vamos para a cama agora mesmo! Faça amor
comigo!
MICHAEL - Margareth... não sei se é uma boa idéia.
Eu sou um homem casado...
MARGARETH - Não sou ciumenta. (Beija-o de novo).
MICHAEL - Oh, Margareth! Não posso resistir! Você é
um verdadeiro furacão!
MARGARETH (derrubando-o na cama) - E isso que eu ainda não
te mostrei a posição do javali perneta.
(Os dois começam a fazer amor em ritmo aeróbico. Cinco
minutos depois, estão deitados lado a lado)
MICHAEL (satisfeito) - Que tal, querida? Isso não foi fantástico?
MARGARETH (visivelmente decepcionada) - Isso o quê? Ah, sim,
claro! Muito legal, querido.
MICHAEL - E você é mesmo o máximo. Onde aprendeu todas
essas coisas?
MARGARETH (sorrindo, complacente) - Você não quer
realmente saber, baby.
MICHAEL (ajeitando-se ao lado, de costas para MARGARETH) - E agora,
se você não se importa, vou tirar uma soneca. Depois preciso
ir embora, para levar minha mulher ao chá beneficente e minha filha
ao teatro infantil.
(E cai no sono. MARGARETH fica olhando para a câmera durante
vários minutos, com cara de bunda. De repente, ouve-se uma voz
vinda de fora).
VOZ - Margareth! Pegue a faca!
MARGARETH (olhando em torno de si, atrapalhada) - Faca? Que faca?
VOZ - A sua faca, Margareth!
MARGARETH (cada vez mais confusa) - Mas faca onde? Pra quê?
Não estou entendendo.
(Suspiro de impaciência, vindo do lado de fora. Um minuto depois,
a porta se abre, e CHARLES aparece, muito aflito)
MARGARETH (sobressaltada) - Charles! O que você está
fazendo aqui?
CHARLES (impaciente) - Pegue a faca, Margareth! Debaixo do travesseiro!
Rápido, antes que Michael acorde!
(MARGARETH levanta o seu travesseiro e acha debaixo dele uma enorme
faca, brilhante e afiada)
MARGARETH (pegando a faca) - E agora? O que eu faço com
isso?
CHARLES - Você esfaqueia o Michael, é claro. Se não
me engano, escrevi aqui... (consulta o roteiro) isso mesmo, "esfaqueia-o
com violência incomum".
MARGARETH (incrédula) - Eu? A troco de quê? Só
porque ele é ruim de cama?
CHARLES (exasperado) - Não! Porque ele não vai abandonar
a família pra ficar com você!
MARGARETH - Graças a Deus!
CHARLES - Margareth, você não está entendendo? Esse
é o grande papel da sua vida! O ápice de sua carreira! Essa
mulher solitária, infeliz, vai assassinar o amante que não
compreendeu suas necessidades afetivas! Em outras palavras: comeu e não
casou! Você vai matá-lo após o ato sexual, como uma
viúva negra! Depois, vai jogar seu corpo num misturador de cimento
e...
MARGARETH - Chega, Charles. Já entendi. (Levanta-se da cama
e começa a vestir suas roupas, que estão espalhadas pelo
chão).
CHARLES - Margareth! O que você está fazendo? Não
me diga que não gostou do papel!
MARGARETH (continuando a vestir suas roupas) - Adorei. Sexo, mentiras
e misturador de cimento.
CHARLES - Isso!
MARGARETH - Segura essa faca.
(CHARLES apanha a faca, espantado. MARGARETH vai sacudir MICHAEL na
cama)
MARGARETH - Michael... benzinho... acorde, querido!
MICHAEL (completamente tonto) - Agora não, Margareth...
talvez daqui a umas duas semanas... (Abre os olhos, sem entender o
que se passa. De repente, vê CHARLES com a faca na mão. Dá
um berro e encosta-se à parede, apavorado).
MARGARETH - Charles, esse é Michael. Michael, esse é Charles.
Ele é... hum... digamos que ele tem um relacionamento especial
comigo.
MICHAEL (em pânico) - Não me mate, por favor! Foi
ela que deu em cima de mim!
MARGARETH (sacudindo a cabeça) - Mas que deselegância,
baby! (Abre a gaveta, pega um revólver e atira-o para Michael)
Pronto, agora você já tem como se defender.
CHARLES - Margareth! Você ficou louca?
(Nesse momento, MICHAEL atira em sua direção. Erra o
tiro por pouco. CHARLES joga-se no assoalho)
CHARLES (desesperado) - Pelo amor de Deus, Margareth! Como é
que a gente sai daqui?
MARGARETH - Ora, espere o fim do filme!
(MICHAEL, em cima da cama, dispara outro tiro. MARGARETH se dirige
à porta)
MARGARETH - Tchauzinho, pessoal!
CHARLES - Margareth! Volte aqui! Margareth!
Momentos depois,
uma bela mulher cruzava o saguão do edifício de luxo onde
morava Charles D. - um dos mais famosos roteiristas de Hollywood, responsável
por sucessos como "Sede de Sangue", "A Máfia não
manda flores" e "A assassina solitária". Belas mulheres
saindo do apartamento de Charles D. não eram nenhuma novidade.
O porteiro perguntou se ela queria um táxi.
-- Não precisa. Eu vou a pé - disse a desconhecida, sorrindo.
Saiu pela porta, dobrou a esquina e nunca mais foi vista.
Ou, pelo menos, não no cinema.
|